O presidente e administrador-delegado da Jerónimo Martins considerou esta quinta-feira que "vem tarde" a intenção de medidas do primeiro-ministro, numa altura em que vai haver um "certo alívio da inflação", talvez até para "custar menos".
Pedro Soares dos Santos falava em Lisboa na conferência de imprensa sobre os resultados do grupo Jerónimo Martins em 2022.
CEO da Jerónimo Martins reage às medidas do Governo
Questionado sobre as declarações do primeiro-ministro, António Costa, na quinta-feira, o responsável disse que primeiro é preciso ver concretamente de que se trata e que qualquer negociação neste âmbito é feita em sede da APED - Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro anunciou que o seu Governo vai trabalhar com os agentes da cadeia alimentar para garantir uma redução do preço dos bens alimentares, admitindo baixar o IVA.
A 10 de março do ano passado, na conferência de imprensa de apresentação de resultados, Pedro Soares dos Santos tinha defendido um alívio da carga fiscal perante o aumento dos custos e da inflação.
“Medidas vêm tarde”, diz presidente da Jerónimo Martins
Questionado sobre se estas eventuais medidas ainda vão a tempo de mitigar impactos, o presidente da Jerónimo Martins considerou que tardam.
"Estas medidas vêm tarde", numa altura "em que vai haver um certo alívio da inflação, já chegaram tarde e, por isso, se calhar elas já vêm nessa altura para custar menos", afirmou o gestor.
Isto porque "acho que a União Europeia voltou a anunciar que a dívida pública tem de ser controlada, o défice tem de voltar aos números anteriores" e, como não foi resolvido no passado, "nos tempos das vacas gordas", agora vai ter de ser feito "no tempo das vacas magras", acrescentou.
"E só uma forma de resolver isto, é cobrar mais impostos, o resto é conversa", rematou, porque "o Estado não gera lucros, só sabe cobrar impostos".
E, portanto, "isto vai acontecer e eu acho que nós vamos passar um mau bocado outra vez este ano com a história das taxas de juro", sublinhou o presidente da Jerónimo Martins, que já há exatamente um ano tinha manifestado preocupação com os juros e com o nível da dívida.
Críticas ao ministro da Economia
O líder do grupo Jerónimo Martins, Pedro Soares Santos, considera que os melhores apoios que podem ser aprovados é a redução dos impostos às famílias para permitir que voltem a ter poder de consumo.
“O Estado foi quem mais recolheu, quem mais beneficiou da inflação e foi aquele que menos fez pelas pessoas”, sublinha o CEO.
As afirmações do ministro da Economia foram "infelizes" e de “quem realmente anda um bocado fora do mundo real onde nós estamos”.
“Acredito que o Governo, pressionado pela contestação social, procure desviar as atenções. E foi o que eles fizeram. Ainda por cima utilizaram a ASAE para um espetáculo”, acrescenta.
No início do mês, António Costa e Silva e Pedro Portugal Gaspar, inspetor-geral da ASAE, afirmaram que alguns produtos tiveram margens brutas de 50%. Perante este cenário, disse então o ministro da Economia: “Parece-nos que há algumas práticas abusivas que têm de ser sancionadas”.
Lucros do grupo Jerónimo Martins atingiram 590 milhões de euros em 2022
O grupo Jerónimo Martins, que detém os supermercados Pingo Doce, apresentou esta quinta-feira lucros de 590 milhões de euros referentes ao ano passado, o que corresponde a um aumento de 27,5% face a 2021.
"Não posso negar que a inflação ajudou" ,mas não é desse “crescimento que o grupo Jerónimo Martins gosta”, defende Pedro Soares Santos.
Redução do IVA na Polónia
No caso da redução do IVA de alguns produtos na Polónia, o presidente executivo da cadeia polaca Biedronka, Luís Araújo, referiu que naquele mercado a medida "foi inteligente".
Trata-se de uma "medida eficaz do Governo polaco que efetivamente transportou um valor sólido para as famílias polacas e continua de forma persistente para a redução do avanço da inflação", prosseguiu, estimando que a inflação seria "à volta de quatro pontos superior se não tivesse implementada".
As famílias polacas, acrescentou Luís Araújo, "pagaram menos de mil milhões de zloty em IVA que teriam pago" caso a medida do Governo da Polónia não tivesse sido aplicada.
"Todos os preços se reduziram na proporção direta e igual da redução do IVA, não quer dizer que isso trave a inflação, há outros fatores que explicam a evolução dos preços ao longo dos anos, o que pode ficar garantido (...) é que na Polónia o valor da redução do IVA foi integralmente transportado para as famílias", reforçou, referindo que foi uma "medida muito positiva".
“Chegou a altura de tomar medidas para ajudar as famílias”
Por sua vez, a diretora-geral do Pingo Doce, Isabel Ferreira Pinto, disse que as famílias portuguesas estão a passar por dificuldades.
"Se o Governo avançar com esta medida já o devia ter feito há mais de um ano, tal como aconteceu com o Governo da Polónia" e com o espanhol, considerou.
"Dizer que em Espanha a diminuição do IVA, que é 5%, em Portugal é 6%, não tem impacto para as famílias não é verdade", salientou a gestora.
Agora, a inflação nos preços "é que foi superior" e "se forem avaliar os preços em Espanha, devido a essa diminuição do IVA, subiram com certeza menos do que subiram em Portugal e que ajudou as famílias", argumentou.
"Acho que o Governo foi o único agente interveniente da cadeia de valor que não fez qualquer tipo de diminuição na sua receita no ano passado", apontou Isabel Ferreira Pinto.
Portanto, "chegou a altura de tomar medidas para ajudar as famílias portuguesas e nós, com certeza, sendo uma boa medida para as famílias portuguesas vamos repercutir integralmente a diminuição do IVA nos preços dos produtos", rematou.
Jerónimo Martins investe 1.000 milhões de euros no Pingo Doce nos próximos três anos
O presidente da Jerónimo Martins anunciou que vão ser investidos 1.000 milhões de euros no Pingo Doce nos próximos três anos.
O gestor adiantou que o investimento na Polónia é de 2,5 milhões de euros a cinco anos e o da Colômbia é de 1.000 milhões a cinco anos.
"Vou gastar 1.000 milhões de euros na Ara [cadeia de supermercados colombiana] nos próximos cinco anos. Vou gastar 2,5 milhões de euros na Polónia" também nos próximos cinco anos.
Já no caso da cadeia de supermercados portuguesa Pingo Doce, o responsável salientou que o investimento é de 1.000 milhões de euros a três anos.
"E [será feito um investimento de] 150 milhões de euros, por ano, na agroindústria", acrescentou.