É também esperado que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, comente o contexto atual de valorização do euro, que está em máximos desde o final de 2014 face ao dólar, segundo referiram analistas contactados pela agência Lusa.
A reunião mensal de política monetária do BCE de hoje, a primeira deste ano, realiza-se na sede da instituição, em Frankfurt, e é seguida da habitual conferência de imprensa de Mario Draghi.
Segundo a economista da Unidade de Estudos Económicos do Banco BPI, Paula Gonçalves Carvalho, a autoridade monetária:
"deverá mostrar-se cautelosa, e procurará não intensificar/alimentar os recentes movimentos de mercado, de valorização do euro e aumento das taxas longas, pelo que as declarações deverão sobretudo visar o suporte à atual política".
Nos próximos meses, referiu à Lusa, o BCE deverá gradualmente adaptar a sua comunicação de forma a preparar o mercado para terminar o programa de compra de ativos até final do ano, em princípio em setembro - dezembro. Paula Carvalho sinalizou ainda que:
"Esta postura faz sentido tendo em conta a aceleração do crescimento económico na zona euro, a sincronia desse movimento e a aproximação, embora muito gradual, da taxa de inflação do patamar de referência"
O economista-chefe do Montepio, Rui Serra, por sua vez, diz que o foco dos mercados na reunião vai estar nas palavras de Draghi a respeito da apreciação do euro e do fim do programa de compras, lembrando que na passada semana, o vice-presidente do BCE, Vitor Constâncio, mostrou preocupações com a recente apreciação do euro. Serra inducva que:
"Continuamos a antecipar que o BCE irá lentamente repensar a sua política monetária nos próximos meses, preparando o terreno para o fim do programa de compra de dívida em setembro de 2018 (que provavelmente somente será anunciado em junho), continuando-se a antecipar a primeira subida da 'refi rate' taxa de juro de referência no atual ciclo no primeiro semestre de 2019"
O economista-chefe da AllianzGI, Franck Dixmier, a propósito, diz que o BCE enfrenta uma "pressão crescente" para clarificar as suas intenções, e refere que:
"Os investidores parecem convencidos de que os juros da zona euro vão manter-se baixos por mais tempo do que é realista, e é por isso que o BCE sabe que tem de alterar gradualmente as expectativas"
O economista do Banco Carregosa, Rui Bárbara, também não espera que saiam grandes novidades da reunião:
"Os montantes das compras estão já decididos até ao último trimestre deste ano e o que falta saber é o que acontecerá depois: se o montante de compras é reduzido mais uma vez ou passa diretamente para zero, como pretende a Alemanha e outros membros mais conservadores do BCE. Não me parece que o BCE faça alguma revelação explícita sobre o que sucederá. Admito, porém, que possa dar algum sinal do caminho a seguir"
O gestor da XTB, Eduardo Silva, lembrou à Lusa que as minutas da última reunião do BCE mostraram que "o discurso cauteloso de Draghi e a declaração do banco em dezembro não refletiram o real sentimento dos membros do banco central". O fim do programa não representará, porém, no seu entender, uma inversão da política monetária "que continuará expansionista por mais algum tempo".
Em 14 de dezembro, o BCE decidiu deixar as taxas de juro inalteradas e confirmou que a partir de janeiro vai reduzir o programa de compra de ativos destinado a apoiar a economia da zona euro. A principal taxa de refinanciamento está em 0% e as taxas de juro aplicáveis aos depósitos e à facilidade permanente de cedência de liquidez em -0,40% e em 0,25%, respetivamente.
Lusa