Desporto

Título do Sporting é uma arrelia para Martínez

Opinião de João Rosado. Com vários portugueses a destacarem-se no novo campeão nacional, aumentam as dores de cabeça para o selecionador.
Stuart Franklin - UEFA

João Rosado

A final da Taça de Portugal só se joga no próximo domingo, dia 26, já se sabe que o FC Porto vai usar no Jamor uma camisola alusiva à Liga dos Campeões conquistada há 20 anos numa quarta-feira 26, mas nada prende mais a atenção do País do que os 26 que às 13h00 de hoje Roberto Martínez vai anunciar como finalistas do Campeonato da Europa.

Para já, na linha de todos os seus pares, o espanhol conseguiu uma grande vitória em Zurique e em Nyon, forçando o alargamento de uma lista que esteve circunscrita a 23 nomes. Portugal, para felicidade geral, encabeça o clube dos que sofrem com o numerus clausus imposto, não importa a grandeza. Sem dificuldade, a seleção podia apresentar dois lotes de convocados, o que significa que mais de 50 atletas ostentam níveis de competência que não envergonhariam a bandeira no torneio alemão.

É até muito natural que ao princípio da tarde Martínez confesse que a elaboração da convocatória correspondeu à decisão mais difícil que alguma tomou na carreira e se tal acontecer ninguém poderá ficar surpreendido ou suspeitar que é uma simples declaração de circunstância. A aguardada conferência de Imprensa na Cidade do Futebol corre o risco de ficar consumida pelas explicações sobre quem fica de fora e não tanto pelas considerações sobre os eleitos para o Europeu. E nesse âmbito, o recente campeonato conquistado de forma inequívoca pelo Sporting acabou por não dar “jeito” nenhum ao selecionador.

Sem levar em conta o que aconteceu nos dois últimos compromissos, já em regime de aquecimento para o Euro, tem sido evidente que o treinador prefere invariavelmente os mesmos, com uma ou outra irrelevante exceção. No fundo, a exemplo de antecessores no cargo, o antigo responsável da Bélgica privilegia rotinas adquiridas por uma espécie de núcleo duro e temendo a falência de uma sistematização protagonizada pelas caras que lhe despertam confiança plena, acaba por se revelar um pouco indiferente à afirmação de outros talentos.

Consciente disto, o sucessor de Fernando Santos tem sido particularmente humilde na forma como repete justificações a propósito de certos jogadores que não costumam fazer parte do baralho. Pedro Gonçalves (Pote), pode dizer-se, lidera esta indesejada tabela, tendo despertado mais de uma vez palavras de conforto e de consolação, nem sempre, saliente-se, devido a meras questões técnicas.

RAPHAEL POTE DAR MATHEUS

Quando Portugal efetuou os desafios de caráter particular com Suécia e Eslovénia, uma lesão acabou por trair as esperanças de Pote em finalmente se mostrar e logo num contexto que contemplou as estreias de Francisco Conceição e de Jota Silva em Liubliana num... 26 de março que assinalou o fim da invencibilidade de Martínez.

À partida, não haverá espaço para este trio se apresentar completo na filtragem final e dos três até parece que Conceição é aquele que reúne maiores possibilidades, sobretudo se conseguir ganhar o lugar a Pedro Neto. Peça-chave na conquista do título leonino graças a 11 golos e 12 assistências (rei dos passes decisivos, a par de Rafa Silva), Pedro Gonçalves enfrenta uma concorrência alargada, sendo, ironicamente, mais penalizado devido à sua polivalência.

Na qualidade de médio-centro, o camisola 8 do Sporting compete no território dos indiscutíveis Otávio, Vitinha e Bruno Fernandes, o que quer dizer que só pode “sonhar” com uma presença na elite das elites caso vença a corrida a dois com o ex-leão Matheus Nunes. E mesmo assim pode não ser suficiente, tudo dependendo do grau de credibilidade que a atual condição física de Raphael Guerreiro desperta na equipa técnica.

Num cenário em que sacrifique o defesa do Bayern Munique e opte pela inclusão de Danilo no bloco defensivo (beneficiando da circunstância de Cancelo e Dalot se constituírem igualmente como sólidas soluções para a lateral esquerda), Roberto Martínez pode dar-se ao luxo de equacionar um sétimo centrocampista para um sector que tem os Joões (Palhinha, além do benfiquista) e os Neves (Rúben, recém consagrado campeão saudita).

Tomada uma primeira decisão no que respeita aos laterais (admitindo Nuno Mendes como único esquerdino de raiz), o catalão teria condições para convocar Pote ou Matheus Nunes sem prejuízo da convocatória dos Franciscos, leia-se Conceição (11 golos e 8 assistências na época) e Trincão (10 golos, 9 assistências em 2023/24).

PAULINHO PODE DAR QUASE TUDO

Por cruel que possa parecer, o raciocínio exposto no quadro das chances que se abrem e... que se fecham a Pedro Gonçalves expõe o elevado grau de dificuldade com que o companheiro de clube Nuno Santos depara para obter o visto de entrada na Alemanha. Os 6 golos e as 16 assistências que o canhoto campeão nacional rubricou na temporada podem ser insuficientes para o catapultar como segundo lateral-esquerdo de Portugal e se porventura isso acontecesse, lá está, muito possivelmente seria à custa do leão nascido em Vidago.

Indiferente a estas questões fratricidas estará Paulinho, o avançado que aproveitou da melhor maneira a boleia de Viktor Gyokeres para chegar a maio como o ponta de lança português em melhor forma. Com 15 golos e 5 assistências no campeonato (total de 21 tentos e 6 assistências na temporada), o esquerdino terminou a prova com uma média de minutos (86) por golo impressionante (ninguém mais eficaz nos 20 melhores marcadores da Liga) e assume-se, sem favor, como uma credenciada alternativa a Cristiano Ronaldo e Gonçalo Ramos.

Em certa medida e também por causa do “apagamento” de emigrantes como André Silva, Beto ou Dany Mota, o ex-Braga é, a par de Gonçalo Inácio, o sportinguista mais plausível no grupo de finalistas. A confirmar-se, seria uma maneira de Roberto Martínez atenuar uma dor de cabeça chamada Sporting, pois seria estranho que o campeão nacional só tivesse Inácio a representá-lo no Europeu.

Paulinho merece ser o dono da última vaga e não lhe ficaria desajustada a camisola 26.

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