Desporto

Será que Macron vai ligar outra vez a Mbappé?

O astro do PSG anunciou que vai deixar o clube no verão, depois de sete anos na capital francesa. Mbappé dissera algo parecido há dois anos, mas o Presidente de França entrou em cena para evitar o pior. Agora é de vez?

Mbappé e Macron
Jean Catuffe

Daniel Pascoal

Há duas formas de pensar o futebol: como um jogo de 11 jogadores contra outros 11, ou como um fenómeno que extrapola as linhas do relvado e invade a sociedade, a cultura e até a política de um país. O caso de Mbappé é um exemplo cristalino de que o futebol é mais do que um desporto.

O astro do PSG anunciou esta quinta-feira que vai deixar o clube no verão, depois de sete anos na capital francesa. Anos de altos e baixos, de um eterno vai-não-vai. O namoro com o Real Madrid esteve, em várias ocasiões, a roçar o casamento. Mas uma improvável renovação - que terá contado até com um telefonema de Macron - fez Mbappé ficar até agora em Paris.

Parece estranho, mas é isso mesmo. O Presidente de França teve uma participação considerável no “sim” que o futebolista deu ao clube em 2022. Macron ligou diretamente para Mbappé e disse-lhe que era “muito importante para o país”.

"Nunca imaginei que iria falar com o Presidente sobre o meu futuro, sobre o futuro da minha carreira. É uma loucura", revelou Mbappé, em declarações ao “The New York Times”.

Autarca de Paris também já meteu o dedo

Um ano depois, quando os milhões da Arábia Saudita ameaçaram a permanência de Kylian no PSG, o poder público voltou a aparecer, desta feita através da presidente da Câmara de Paris.

Mbappé durante a partida da seleção da França diante dos Países Baixos, a contar para a qualificação para o Euro 2024.
GONZALO FUENTES

Na altura, jogador e clube travavam um braço de ferro devido à cláusula de renovação que Mbappé insistia em não acionar - e não o fez, podendo sair a custo zero no próximo verão -, o que levou o PSG a ponderar vender a estrela. A discussão, típica das mesas de bar, chegara à autarquia.

"Não entendo qual é o jogo do PSG. Mbappé é o melhor jogador do mundo. Tenho de reconhecer que já não entendo nada. O Kylian é um jogador extraordinário e precisamos de o manter em Paris. Acredito que o seu desejo também é ficar o máximo de tempo possível. A pergunta é: qual é o jogo do PSG?", atirou a presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, à RMC Sport.

A política e o futebol

O futebol, mais que um desporto, ruma há muito tempo para uma lógica de negócio. Mas não é só: o poder político usa desde sempre, e parece que cada vez mais, o futebol como um recurso raro para mobilizar massas e alterar perceções. Basta olhar para o que a Arábia Saudita ou o Qatar estão a fazer para tentar promover e limpar a imagem dos seus governos.

Em França, os objetivos são diferentes, mas também estão ligados à imagem do futebol local e, consequentemente, do próprio país. Mbappé é uma espécie de holofote para Paris, um ativo “muito importante", nas palavras de Macron. E o PSG, há anos a única potência a nível europeu que milita no campeonato francês, também.

Mbappé parece convencido de que agora, depois de sete anos, é a hora certa de sair. Madrid volta a ser o destino mais provável. Será que Macron vai ligar outra vez?

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