O episódio foi inesperado, atípico e aconteceu num ambiente de cortar à faca, o que exponenciou drasticamente o seu impacto. O timing e mediatismo do incidente apenas aumentaram a sua visibilidade.
Tenho lido e ouvido vários opiniões, umas mais acaloradas e emotivas, outras mais serenas e racionais. Todas legítimas, tal como a minha, que deixo de seguida, se me permitem:
-Ponto prévio. Um momento infeliz num contexto específico de jogo não define o caráter do profissional nem a sua dimensão humana. Criticar a atitude do jogador, sim. Diabolizar o homem, não.
Nada de mistura, por favor. Todos temos telhados de vidro.
Outra constatação que me parece óbvia: o foco devia estar menos na decisão que o árbitro tomou e mais no gesto em si.
O que o árbitro decide é sempre posterior. Pressupõe uma ação prévia. É uma resposta a um situação de jogo que requer a sua intervenção.
É importante que acerte, para servir a verdade desportiva e a perceção de que foi feita justiça, mas é o que dá origem à sua análise que deve centrar a discussão.
Confesso-vos, não conheço as regras do futsal. Não sei se aquela infração é punida, como foi, com um cartão amarelo ou se devia ser sancionada com dois, seguido do vermelho por acumulação (um amarelo por entrar sem autorização na quadra, outro por anular ilegalmente um ataque prometedor).
O que sei é - isso garantidamente - é que decidiu quem tinha competência, conhecimento e legitimidade para tal.
Quanto ao gesto de Taynan, acho que ninguém é perfeito e errar faz parte, sobretudo quando o erro acontece em ambientes destes, muito stressantes e exigentes. Quem nunca falhou que atire a primeira pedra. A diferença estará sempre na forma como se dá a cara, como se assume as responsabilidades e, se for caso disso, as consequências.
O instinto fatal do jogador do Sporting, mais do que ter ou não consequências desportivas, beliscou algo muito maior, que é o exemplo que se espera em competições deste nível e em atores do seu quilate.
O seu clube, defensor acérrimo de boas práticas no desporto (honra lhe seja feita, tem feito trabalho muito meritório nessa matéria), ficaria muito bem na fotografia se mantivesse a coerência do seu discurso e reprovasse publicamente o gesto do atleta.
Quanto ao resto, é assim:
1. Acho que tinha feito todo o sentido o CA da FPF efetuar um curto esclarecimento sobre a qualidade da decisão, matando à nascença quaisquer focos de polémica, como veio entretanto a acontecer;
2. Acho ainda que o SL Benfica não tem qualquer razão ao avançar para o protesto de jogo, porque a ter havido falha do árbitro, seria sempre baseada num erro de facto e nunca de direito. Os jogos decidem-se durante todo o tempo que duram, não num único momento. Essa é a minha opinião;
3. E também acho que atribuir o prémio de melhor jogador ao autor do incidente foi a cereja no topo do bolo, mas ao contrário: uma tremenda falta de sensatez e uma enorme infelicidade por parte de quem tomou a decisão.
A "malandrice" pode não ser devidamente sancionada, mas o que não pode nunca é ser premiada.
O que aconteceu ontem, não fazendo ninguém de criminoso (obviamente), pode involuntariamente dar azo a réplicas um pouco por todo o lado. De norte a sul, dos profissionais à formação.
Esperemos que não. A modalidade não merece e nós também não.