O Sporting está a ser acusado pela Liga Portuguesa de Futebol de fraude na inscrição de Rúben Amorim como treinador. A multa para o técnico pode ser de um a seis anos de suspensão.
A queixa foi apresentada pela Associação Nacional de Treinadores de Futebol, em março de 2020, e a acusação da Comissão de Instrutores da Liga Portuguesa de Futebol foi agora conhecida.
O Sporting alega que Rúben Amorim, à data da queixa, foi inscrito como treinador adjunto por ainda não ter habilitações para ser inscrito como treinador principal. Acrescenta que o mesmo já aconteceu com outros treinadores e clubes, inclusivamente essa era a condição em que Rúben Amorim se encontrava no Sporting de Braga quando foi contratado pelo Sporting.
"Um dos episódios mais lamentáveis e surreais da história do futebol português"
Numa reação à acusação, o Sporting fala num dos "episódios mais lamentáveis e surreais da história do futebol português".
Na altura, a associação criticou a contratação de Rúben Amorim como técnico do SC Braga por não ter o nível 4 da categoria profissional de treinador, ou seja, não teria as qualificações necessárias para treinar um clube da I Liga. A associação disse que era uma vergonha que desprestigiava a imagem do futebol português.
"Este processo e esta acusação constituem uma mancha reputacional indelével no desporto nacional, com repercussões internacionais, por impedirem qualquer possibilidade de crença no regular funcionamento das instituições que movem o processo", diz o Sporting, através de um comunicado publicado esta segunda-feira no site oficial do clube.
O clube de Alvalade lamenta "o tratamento díspar e enviesado em desfavor" do Sporting e diz que é uma tentativa das instituições envolvidas em "prejudicar gravemente a promissora carreira de um muito competente jovem treinador".
"Só um corporativismo ultrapassado pode acreditar que um processo deste género promove e protege a classe dos treinadores portugueses. E só uma disciplina desportiva cega, no pior sentido, poderia entender ser de acolher essa sanha persecutória."
No comunicado, o clube dirige-se aos sócios e adeptos para assegurar que "não existe qualquer fundamento jurídico que sustente a sanção proposta de um a seis anos de suspensão" e que "reitera a sua total confiança nesta equipa técnica".
Rúben Amorim chegou ao Sporting a 5 de março de 2020, proveniente do SC Braga. Na quinta-feira passada, o treinador de 36 anos prolongou o seu contrato com o clube de Alvalade por mais uma época, até 30 de junho de 2024.
Após 22 jornadas sem derrotas, o Sporting lidera a I Liga, com 58 pontos, mais 10 que o campeão FC Porto e mais 12 que o Sporting de Braga, que recebe esta terça-feira o Vitória de Guimarães
Na altura da transferência de Rúben Amorim do SC Braga para o Sporting, a Associação Nacional de Treinadores fez igualmente uma queixa contra Custódio, que assumiu o comando técnico da equipa minhota.
A queixa reside no facto de Custódio não possuir nível IV, exigível pelo regulamento de competições para exercer a função de treinador. Na altura, Custódio tinha apenas o nível I, que o obrigava a marcar presença no banco de suplentes do Braga na condição de terceiro treinador, uma vez que para ser adjunto é necessário possuir o nível II.
Ao que a SIC apurou, os casos não são semelhantes, pois Custódio não foi inscrito como treinador-adjunto. O Sporting de Braga já recebeu a notificação do inquérito e vai responder em sede própria.
Em relação a Ruben Amorim, esta não é a primeira vez que se vê envolvido numa polémica relacionada com a condição de treinador e a Associação Nacional de Treinadores. Em 2019, quando integrava a equipa técnica do Casa Pia como treinador-estagiário, foi suspenso por três meses por ter sido visto a dar orientações à equipa em vários jogos.
Foram retirados seis pontos ao Casa Pia, que teve ainda de pagar uma multa de 14 mil euros e jogar cinco encontros à porta fechada.
À SIC, a Associação Nacional de Treinadores de Futebol esclarece que, enquanto o processo estiver a decorrer no Conselho de Disciplina, não se vai pronunciar.
O que está em causa e o que pode acontecer ao Sporting e ao treinador
O professor de Direito Desportivo esclareceu que o que está em causa é a diferença entre a aplicação da lei de treinadores e a aplicação do regulamento de competições.
O Sporting incorre numa multa, mas o treinador pode de facto ser suspenso caso se prove o dolo e, para isso, é necessário provar que houve intenção de forjar a ficha de jogo ao indicar Emanuel Ferro como treinador principal, quando de facto era o Ruben Amorim o técnico principal.
As provas podem passar por testemunhas, imagens vídeo, a forma como as pessoas são apresentadas, as instruções para o campo ou as próprias conferência de imprensa.
Para Lúcio Correia, o que está em causa é fragilidade da lei que permite que seja contornada.