Desporto

Eusébio comemora hoje 70 anos 

Eusébio da Silva Ferreira, o maior símbolo do futebol português, completa na quarta-feira 70 anos, com mais de meio  século de Portugal e de Benfica, desde a sua chegada a Lisboa no inverno  de 1960. 

Nascido em 25 de janeiro de 1942, Eusébio tornou-se a maior lenda do  futebol português, não só ao serviço do Benfica, na década mais gloriosa  do clube (anos 60), mas também da seleção nacional, com o terceiro lugar  no Mundial de 1966. 

Com o número 10 nas costas ao serviço das "águias" e o 13 com as "quinas",  o "Pantera Negra" teve os seus momentos mais altos no segundo título europeu  do Benfica (5-3 ao Real Madrid) e no Mundial de Inglaterra66, onde foi o  melhor marcador. 

A forma determinada e o espírito de sacrifício com que se entregou à  profissão são, segundo o próprio, a "chave" do êxito que teve ao longo de  uma carreira recheada com um título europeu de clubes, um terceiro lugar  num mundial e uma série "interminável" de prémios individuais e... de golos,  muitos golos. 

"Nunca tive medo de levar pancada. Só no joelho esquerdo, fui operado seis vezes ao menisco... mas nunca tive medo, porque sempre gostei de jogar",  revelou, em declarações à agência Lusa, o antigo jogador por ocasião do  seu 50. aniversário. 

O cinquentenário serviu também para o clube do seu coração e no qual  cumpriu quase toda a carreira (15 épocas de Benfica) o homenagear, com a  colocação de uma estátua de bronze do jogador na zona do estádio, primeiro  no antigo e hoje na nova Luz. 

Longe vão os tempos da sua chegada a Lisboa, numa viagem repleta de  secretismo - o Sporting concorria pelo jogador - e que significou o abandono  do futebol amador moçambicano e o ingresso num Benfica colossal, que se  preparava para conquistar a sua primeira Taça dos Campeões Europeus. 

Depois dessa noite, o futebolista - face ao diferendo entre Benfica e Sporting - ainda teve que esperar alguns meses para se estrear pelos  "encarnados", a 23 de maio de 1961, dando início a uma carreira de sucesso.

A sua chegada ao futebol foi muito polémica e faz parte dos anais do  futebol: a atuar no Sporting de Lourenço Marques, filial do Sporting, era  pretendido pelos "leões", mas foi o Benfica que ganhou... uma "louca" corrida.

Para levarem a melhor, os dirigentes "encarnados" utilizaram mesmo um  código nas suas comunicações telefónicas e telegráficas com Moçambique,  de forma a despistarem os "leões", referindo-se ao jogador através de um  nome de mulher - Rute. 

Parecia um "filme de espiões": Eusébio foi levado num Volkswagen com  matrícula do governo diretamente para as escadas do avião "Super Constelation",  no qual foi o último a embarcar, sem que o seu nome tenha sequer feito parte  da chamada dos passageiros. 

Inconformado com o facto de verem Eusébio evoluir na Luz, o Sporting  chegou mesmo a acusar os dirigentes rivais de terem raptado o jogador, mas  Eusébio nega esta versão e garante que o Benfica ganhou por ter negociado  com a sua mãe e o seu irmão.  

"O Benfica estava à frente porque falou com a minha mãe e o meu irmão.  O Sporting fala em rapto, mas eu nunca poderia aceitar ter sido raptado",  explicou Eusébio, que, depois de chegar a Lisboa, viveu durante quatro meses  no "Lar do Jogador" do seu novo clube, isto depois de 10 dias no Algarve  com o dirigente Domingos Claudino.  

E seria só na época seguinte que a Europa se preparava para descobrir  um dos mais importantes talentos da história do futebol, enquanto para trás  ficavam as "peladinhas" com bolas de trapos e uma época (1959/60) ao serviço  do Sporting da sua cidade, Lourenço Marques, atual Maputo. 

A subida da "escadaria" da glória deu-lhe a alcunha de "pantera negra"  e conduziu-o à conquista dos mais importantes troféus pessoais atribuídos  a futebolistas, rivalizando em popularidade com "mitos" como o brasileiro  Pelé, o alemão Franz Beckenbauer, o hispano-argentino Alfredo Di Stefano  e o holandês Johan Cruyff. 

Famosas ficaram as suas arrancadas demolidoras e os "petardos" desferidos  de todos os ângulos e a qualquer distância da baliza, que ainda hoje levam  muitos a falar de um "pontapé à Eusébio" para "adjetivar" um remate muito  forte e colocado. 

A entrada quase direta no "onze" titular de um Benfica campeão europeu,  prevista pelo defesa Germano nos balneários logo após um dos primeiros treinos  que Eusébio efetuou no "ninho das águias", foi o começo de uma carreira  sem par no panorama do futebol português.  

 O talento ímpar era constatado pelos colegas nos treinos e o capitão  José Águas terá mesmo dito: "eu não sei, até posso ser eu, mas alguém tem  que sair para ele jogar", o que viria a acontecer, mas com o campeão europeu  Santana. 

O currículo de Eusébio é único: sete vezes melhor marcador do campeonato  nacional (1963/64, 64/65, 65/66, 66/67, 67/68, 69/70 e 72/73), duas vezes  o melhor marcador europeu (1967/68 e 72/73) e uma vez eleito melhor futebolista  Europeu.  

Além disso, o "pantera negra" foi 11 vezes campeão nacional pelo Benfica  - alinhando em 294 jogos, nos quais marcou 316 golos -, ganhou cinco Taças  de Portugal, foi campeão europeu em 1961/62 e finalista da Taça dos Campeões  em 1962/63 e 67/68. 

A sua carreira ficou ainda marcada pela presença em 64 jogos da seleção  nacional, pela qual se estreou em 08 de Outubro de 1961 com uma derrota  no Luxemburgo (4-2) e pela participação em dois encontros da seleção mundial  e 12 da seleção europeia.  

No Mundial de 1966, em Inglaterra, Eusébio foi o grande responsável  pelo terceiro lugar conquistado pela turma das "quinas", ganhando o troféu  destinado ao melhor marcador da prova, com nove golos, e sendo considerado  o melhor jogador da competição.  

A sua melhor exibição de sempre terá acontecido no jogo com a Coreia  do Norte, dos quartos de final, quando Eusébio marcou quatro golos e levou  Portugal ao "colo" para as meias-finais (5-3), isto depois dos asiáticos  terem chegado rapidamente a 3-0. 

Encravado na sua carreira ficou uma frustrada transferência para Itália,  apesar de o Benfica ter aceitado uma proposta de três milhões de dólares  (então cerca de 90 mil contos) para vender o seu "passe" ao Inter de Milão...  o ditador Oliveira Salazar considerou-o "património nacional".  

Condecorado pelo Governo português com os colares de Mérito Desportivo  (1981) e de Honra ao Mérito Desportivo (1990), Eusébio recebeu também a  "Águia de Ouro", o mais alto galardão do Benfica, em 1982, enquanto a sua  vida inspirou livros biográficos, filmes de longa-metragem e álbuns de banda  desenhada.  

Menos ortodoxa foi a homenagem prestada em 1990 por um grupo de rock  de Manchester, Inglaterra, que adotou como designação o nome de "Eusébio",  mais de 20 anos depois de o "pantera negra" ter "brilhado" a grande altura  num Mundial... que merecia ter ganho. Jamais serão esquecidas as suas lágrimas  após o Inglaterra-Portugal. 

Atualmente no papel de embaixador da seleção e símbolo vivo do Benfica,  Eusébio ultrapassou alguns problemas de saúde, primeiro em 2007 quando teve  que ser operado à artéria carótida esquerda, para prevenir um eventual acidente  vascular cerebral (AVC) e mais recentemente quando foi internado com uma  pneumonia bilateral. 

Em dezembro último, o antigo jogador passou o Natal hospitalizado com  pneumonia e já em janeiro teve que regressar à unidade hospitalar, mas com  um quadro clínico de cervicalgia, depois de se ter queixado de dores. 

Lusa 

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