A pintura do século XVIII alegadamente roubada pelos nazis a um colecionador judeu durante a Segunda Guerra Mundial foi recuperada, após ter sido avistada num anúncio imobiliário na Argentina.
O procurador de Mar del Plata, no leste da Argentina, Daniel Adler, sublinhou em declarações aos jornalistas que o advogado da herdeira de um oficial das SS, Friedrich Kadgien, que se estabeleceu na América do Sul após a Segunda Guerra Mundial e faleceu em 1978, devolveu a obra, o "Retrato de uma Senhora" ("Portrait of a Lady", em inglês), do artista barroco italiano Giuseppe Vittore Ghislandi.
Um jornal neerlandês tinha identificado a obra num anúncio de venda da casa dos herdeiros de Kadgien em Mar del Plata. Num primeiro momento, a justiça argentina apreendeu a pintura e ordenou uma busca, mas esta já não foi localizada no local que aparecia na foto, tendo sido substituída por outra.
Acusados de “recebimento de bens roubados”
Patricia Kadgien, de 58 anos, filha do oficial das SS, e o seu marido de 60 anos foram acusados de "recebimento de bens roubados" na quarta-feira, após a entrega do quadro à justiça.
Foram realizadas novas buscas nas propriedades do casal, durante as quais a polícia descobriu 22 gravuras da década de 1940 do pintor francês Henri Matisse (1869-1954), um mestre do fauvismo, além de outras pinturas cujas origens ainda não foram determinadas, noticiou na quinta-feira a agência France-Presse (AFP).
Carlos Murias, advogado do casal, referiu que o crime pelo qual os seus clientes estão a ser acusados está "prescrito por lei", e que a pintura faz parte do seu património. No entanto, de acordo com a lei argentina e internacional, os crimes relacionados com genocídio não estão prescritos por lei.
De acordo com o jornal argentino La Nación, o casal admitiu ao tribunal que estava na posse da obra de arte, mas acredita que esta faz parte do seu património e que qualquer ação judicial referente à pintura está prescrita.
A obra pertencia ao colecionador neerlandês Jacques Goudstikker, cuja propriedade foi saqueada pelos nazis.
A pintura consta de uma lista internacional de obras de arte desaparecidas e está disponível no 'site' da agência neerlandesa do património cultural, dedicada à identificação, rastreio e restituição de bens culturais roubados pelos nazis.
Obra está em “bom estado”, valor pode chegar aos 50 mil dólares
A obra está "em bom estado, considerando a sua idade, datando de 1710. O seu valor pode chegar a cerca de 50 mil dólares", frisou aos 'media' o especialista em arte e professor Ariel Bassano, ao lado da obra.
Friedrich Kadgien foi consultor financeiro do criminoso de guerra alemão Hermann Göring, que acumulou uma fortuna colossal durante o regime nazi, principalmente através do roubo de propriedades judaicas.
Milhares de nazis atravessaram o Atlântico após a guerra e foram para a Argentina ou refugiaram-se nela.
Entre os casos de maior impacto está o de Adolf Eichmann, o principal responsável pela implementação da "Solução Final", o plano de extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Foi capturado em Buenos Aires em 1960 e julgado e executado em Israel.