O ator brasileiro Ivo Müller, que começou a carreira internacional com o filme português "Tabu", lança-se esta segunda-feira no cinema em Hollywood com a estreia da sua primeira longa-metragem nos Estados Unidos, "Proof Sheet", no festival Dances With Films.
"Para nós é uma grande vitória porque este filme foi feito durante a pandemia, então tivemos muitas dificuldades, tal como todas as outras produções que aconteceram nessa época", disse à Lusa Ivo Müller.
"Para nós é uma vitrina também", considerou, sobre a estreia na 26.ª edição do festival de cinema independente Dances With Films.
"É um lugar onde podemos ter visibilidade e possibilidade de distribuição".
O festival Dances With Films, que celebra filmes independentes, decorre no TCL Chinese Theatre, em Los Angeles, até 2 de julho e vai incluir uma produção luso-americana, "The Girl in the Backseat".
“Tabu”, o filme que “mudou a vida” de Ivo Müller
"Proof Sheet" marca a chegada a Hollywood de um ator para quem o salto para o cinema começou em Portugal, há mais de uma década, quando foi escolhido por Miguel Gomes para integrar o elenco de "Tabu".
"O 'Tabu' foi o filme que mudou a minha vida, que abriu as possibilidades de fazer cinema", explicou o ator.
"Foi um filme com exposição enorme, com capas de jornais e passadeira vermelha no Festival de Berlim".
Realizado por Miguel Gomes, "Tabu" (2012) foi uma coprodução entre Portugal, Alemanha, França e Brasil e conquistou várias nomeações e prémios, incluindo o prémio da crítica e o Prémio Alfred Bauer no festival de cinema de Berlim.
"Foi um filme que foi divisor de águas para mim", salientou Ivo Müller.
"Proof Sheet"
É isso que "Proof Sheet" pode ser também nos Estados Unidos, já que o ator considera que o filme, realizado por Richard Kilroy, tem potencial para conquistar a audiência.
"É um thriller, tem uma possibilidade comercial muito boa. Há público para esse tipo de filme", disse, descrevendo a sua personagem na história como alguém "esquisito" que remete para o universo de David Lynch.
"O meu personagem chama-se Elio e é uma espécie de elo entre o mundo real e o mundo de fantasia, entre o mundo legal e o ilegal, as coisas que se podem fazer e as que são proibidas", detalhou.
"Ele é o gestor de uma loja a que chamam de botica, que na verdade é uma fachada para um negócio ilegal de prostituição".
Embora considerando que é uma produção "para ser exibida no grande ecrã", ganhar distribuição numa plataforma de 'streaming' após a estreia no festival seria um desfecho positivo.
"Eu sou um apaixonado pela exibição no grande ecrã", referiu. "Mas no caso de um filme como o 'Proof Sheet' acho que se conseguir distribuir numa plataforma é bom, ter a possibilidade de mais gente assistir".
"Barba ensopada de sangue"
Além de "Proof Sheet", o ator tem outro projeto em pós-produção, o filme "Barba ensopada de sangue", do realizador brasileiro Aly Muritiba a partir do livro com o mesmo nome de Daniel Galera, e está a produzir uma curta-metragem com um grupo de atores.
"Há muitas coisas a acontecer apesar da greve", salientou, referindo-se à paralisação dos argumentistas que dura há mais de dois meses e causou uma paragem na indústria.
"As audições estão paradas, o que é muito triste. Mas é por uma boa causa, temos de lutar por melhores condições de trabalho", considerou, referindo o dilema da era do 'streaming'. "Há um lado bom e um lado ruim no 'streaming'", considerou.
"O lado ruim é esse contra o qual estamos a batalhar, não recebemos residuais como deveríamos. Aparecemos em vários países e deveríamos ganhar por isso", continuou. É sobretudo uma contingência da profissão: "Por mais sucesso que tenhamos, não há garantias de que no ano que vem vamos ter trabalho", disse.
"Para pagar as contas e ter uma família precisamos de ganhar os residuais de cada vez que a nossa imagem aparece".