No dia 27, saberemos o título de um filme que se vai inscrever em letras douradas na história do Festival de Cannes — será a Palma de Ouro da 76ª edição do maior certame de cinema do mundo. O certo é que nunca foi “obrigatório” ganhar um prémio para ficar nessa história… Este ano, fora de competição, já tivemos um desses acontecimentos capazes de simbolizar toda uma ideia de espectáculo. A saber: “Indiana Jones and the Dial of Destiny”, quinta aventura do famoso arqueólogo que terá o título português “Indiana Jones e o Marcador do Destino” (tradução pouco feliz…), chegando às salas do nosso país a 29 de junho.
Como tem sido amplamente noticiado ao longo dos últimos meses, o filme, dirigido por James Mangold, arrisca encenar a personagem com a idade real do seu intérprete, Harrison Ford — ou seja, 80 anos! Depois, há muitos ziguezagues temporais (resolvidos com sofisticados efeitos visuais no tratamento do rosto de Harrison Ford), começando com Indiana Jones a ser capturado pelos nazis quando tenta aproximar-se de uma preciosa relíquia que eles roubaram…
Digamos, para simplificar, que a competência e a agilidade de Mangold não sustentam uma comparação directa com os tempos iniciais de Indiana Jones no cinema, com assinatura de Steven Spielberg (recorde-se que “Os Salteadores da Arca Perdida” surgiu há mais de quatro décadas, em 1981). Mas não é um paralelismo mecânico que importa relevar. O que realmente interessa é a capacidade de refazer um estilo e um espírito de aventura (“a grande aventura”, como dizia a publicidade de 1981) que não perdeu a sua ligação simbólica com formas “antigas” de espectáculo, formas que algumas sagas de super-heróis têm contribuído para apagar da memória dos espectadores mais jovens.
Harrison Ford marcou presença em Cannes, além do mais para receber uma Palma de Ouro honorária que lhe foi entregue por Iris Knobloch, a nova presidente do Festival. O menos que se pode dizer é que a arte do envelhecimento pode ser também um trunfo a favor do espectáculo.