Qualquer temporada de Óscares (os próximos serão entregues no dia 12 de março) tem os seus “eleitos”, quanto mais não seja pelo volume da respectiva promoção, a par de alguns títulos mais ou menos “marginais”, limitados pela sua escassa divulgação. Este ano, entre estes últimos, está o belíssimo “Causeway”, isto apesar de ser protagonizado por uma grande estrela: Jennifer Lawrence; com ela contracena o excelente Brian Tyree Henry, detentor da única nomeação do filme (para melhor actor secundário).
O menos que se pode dizer é que não estamos, de facto, no universo que deu fama a Jennifer Lawrence, ou seja, os filmes de “The Hunger Games”. Sob a direcção de Lila Neugebauer, uma directora teatral que se estreia na realização, ela interpreta uma jovem militar que regressa de uma missão no Afeganistão marcada pelas memórias traumáticas da guerra; de forma acidental, acaba por encontrar na personagem de Tyree Henry, não exactamente um companheiro, nem um aliado, mas algo diferente, porventura mais essencial: alguém que a custa, abrindo através do diálogo uma possibilidade de redescoberta da sua identidade (e da dele).
Lawrence é brilhante, recordando-nos o seu imenso talento de composição, revelado em 2010 com “Desposjos de Inverno”, de Debra Granik. Tyree Henry fornece um contraponto de grande subtileza dramática, tanto mais surpreendente quanto o conhecíamos, sobretudo, em registo cómico — lembremos a sua composição em “Bullet Train: Comboio Bala”, de David Leitch, também uma produção de 2022, ao lado de Brad Pitt.
Enfim, Tyree Henry não parece ser favorito na bolsa americana das apostas para os Óscares (dizem os especialistas que Ke Huy Quan, em “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, deverá arrebatar a estatueta dourada). Mas não é isso que está em causa: “Causeway” distingue-se pelo seu imaculado classicismo e por esse valor de todas as épocas que é a vibração do trabalho dos actores.
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