Aos 63 anos, não será descabido dizer que o selecionador nacional vive o melhor momento da carreira.
Em Paris, alcançou o tão ambicionado título europeu para um país pequeno em dimensão mas enorme em devoção. E foi essa mesma devoção que desempenhou um papel importante na triunfal caminhada lusitana.
Mas para alcançar este patamar, o percurso de Fernando Santos em nada foi abonado com salários milionários ou super agentes. O caminho foi íngrime, os obstáculos foram muitos.
Após uma carreira de jogador em que, enquanto sénior, só levou ao peito os emblemas de Estoril-Praia e Marítimo, o engenheiro eletrotécnico, entre bola, estudos e até uma passagem pela hotelaria, cedo mostrou que seria a "redondinha" a comandar-lhe o destino.
Treinou Estoril e Estrela da Amadora antes de chegar ao FC Porto, em 1998. Na Invicta ganhou a alcunha de "Engenheiro do Penta" depois de levar a armada azul e branca a uma inédita e, até hoje inigualada, quinta conquista consecutiva do campeonato.
O sucesso inicial acabou por esmorecer e a saída do Porto levou Fernando Santos a embarcar na primeira viagem até ao estrangeiro: a Grécia era o destino.
Treinou AEK e Panathinaikos antes de assinar pelo clube do coração: o Benfica. Mas o sonho tornado realidade não se converteu em sucesso desportivo e a separação tornou-se inevitável, logo no arranque da segunda época nas águias.
Regressaria a solo grego e o PAOK foi rampa de lançamento para um desafio de outra dimensão: a seleção helénica.
As campanhas muito positivas da Grécia no Euro 2012 e no Mundial 2014 fizeram dele um autêntico herói nacional. Também por isso, por todo o apoio e carinho com que sempre o trataram, deixou um agradecimento especial ao povo grego logo após o maior feito da carreira: a conquista do Euro 2016.
Um feito histórico, inédito e o maior da carreira do selecionador e da própria seleção.
O início na equipa das quinas não foi o mais tranquilo. Fernando Santos foi aposta vincada do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, mesmo sem que se soubesse, na altura, se o engenheiro se podia sentar no banco de suplentes.
O castigo por críticas feitas a um árbitro no Mundial anterior acabou por ser suspenso e o novo selecionador podia, por fim, assumir os comandos de uma nau que ansiava pela primeira grande conquista.
Fernando Santos 'pegou' numa seleção vinda de uma derrota caseira com a Albânia. Não mais voltou a tropeçar e selou o bilhete português para o Europeu com uma campanha 100% vitoriosa, num grupo em que estavam seleções como Dinamarca ou Sérvia.
Chegava o momento das decisões e a entrada não foi a mais assertiva. Após dois empates, diante de Islândia e Áustria, o selecionador deixou duas garantias: só voltaria para Portugal no dia 11 de julho e seria recebido em festa.
A fé foi rainha num sucesso em que Fernando foi rei. Sem dispor de uma geração de ouro do futebol português, foi (e soube ser) líder. Comandou 23 homens de quem nunca duvidou. A ele juntou-se toda uma nação e, passo a passo, Portugal chegou ao trono.
Um estatuto que pareceu sobranceirar as hostes lusas. A campanha para o Rússia'2018 arrancou com uma derrota. O desaire deu para desconfiar mas essa mesma desconfiança desnaveceu-se com nove vitórias consecutivas e o apuramento direto alcançado.
E se não será descabido dizer que o selecionador nacional vive, aos 63 anos, o melhor momento da carreira, será muito descabido esperar que as tropas lusitanas só regressem a casa a 16 de julho?
Desta vez sem garantias, Fernando Santos já esclareceu que, em 2018, "Portugal não tem um sonho, tem um objetivo: lutar pela vitória".