Quadros de Miró

Quadros de Miró saíram do país entre 2008 e 2011 sem autorização

Pelo menos 17 dos 85 quadros de Joan Miró que pertenciam ao BPN já tinham sido expostos fora de Portugal, entre 2008 e 2011, sem autorização prévia da Direcção Geral do Património Cultural.

(Reuters)
© Suzanne Plunkett / Reuters

"Após a consulta dos arquivos desta Direção-Geral, não foi referenciado  qualquer pedido de exportação ou expedição de obra da autoria de Joan Miró,  a que se refere o pedido de informação", escreveu a Direção-Geral do Património  Cultural (DGPC), em resposta à agência Lusa. 

A Parvalorem, criada em 2010 para gerir os ativos e recuperar créditos  do universo do ex-BPN, disse à Lusa não ter informação alguma relacionada  com a exposição das obras no exterior, lembrando que só em 2012 tomou juridicamente  posse da totalidade do acervo. 

A Lei do património exige a comunicação da expedição de obras de arte  à autoridade competente, independentemente da sua classificação. 

De acordo com os catálogos da Christie's, há 17 quadros, do total de  85 expostos em Londres no início deste ano, que foram apresentados em diferentes  instituições da Europa e dos Estados Unidos, em cidades como Nova Iorque,  Madrid ou Palermo, já depois de adquiridos pelo antigo Banco Português de  Negócios (ex-BPN) e, na maioria dos casos, após a nacionalização do banco,  em novembro de 2008. 

Quadros como "La Fornarina", de 1929, "Cabeça de homem", de 1935, "Femme  dans la nuit", de 1944, pinturas sem título e trabalhos sobre papel foram  apresentados em instituições como a Fundación la Caixa e o Museo Thyssen-Bornemisza,  em Madrid, o Museu de Arte Moderna (MoMA), em Manhattan, a Tate Modern,  na capital britânica, e a Fundación Pilar i Joan Miró, em Palma de Maiorca.

Estas apresentações externas decorreram em diferentes períodos, de 2008  a 2011, segundo o histórico de cada peça descrito pela Christie's, nos catálogos  dos leilões dos passados dias 04 e 05 de fevereiro, que incluíam os 85 lotes  provenientes da "República Portuguesa", correspondentes aos quadros de Miró,  em posse do Estado. 

De acordo com a lei do património, em vigor desde 2001, o pedido de  expedição destes quadros devia ter sido feito ao antigo Instituto dos Museus  e da Conservação (IMC), entretanto integrado na atual DGPC, que não referencia  "qualquer pedido de exportação ou expedição de obra da autoria de Joan Miró",  no período em causa. 

O artigo n. 64 da Lei do Património Cultural diz que "a exportação  e a expedição temporárias ou definitivas de bens que integrem o património  cultural, ainda que não inscritos no registo patrimonial de classificação  ou inventariação, devem ser precedidas de comunicação à administração do  património cultural competente com a antecedência de 30 dias". 

Esta obrigatoriedade impõe-se, "independentemente da apreciação definitiva  do interesse cultural do bem em causa", salvaguardando o Estado a capacidade  de decidir sobre "a exportação ou expedição", podendo até impedi-la, sem  outra obrigação. 

Ainda segundo a lei, se estes procedimentos não se verificarem, as exportações  e expedições "são ilícitas". 

A Parvalorem, contactada pela Lusa, garantiu não ter "nenhum elemento"  sobre a exposição das obras fora do país em 2008-2011, sobre a existência  ou não de pedidos para expedição e quem pediu ou autorizou a sua saída,  lembrando que, até 2012, grande parte das obras se manteve na posse de sociedades  "offshore" ligadas ao ex-BPN. 

"O gabinete do secretário de Estado da Cultura não tem nada a acrescentar"  à DGPC.  

A Christie's cancelou a venda dos quadros, prevista para os passados  dias 04 e 05, depois de o Tribunal Administrativo de Lisboa ter rejeitado  a primeira providência cautelar interposta pelo Ministério Público (MP)  e alertado para ilicitudes, no processo de expedição. 

O MP interpôs uma segunda providência cautelar, para suspensão da venda,  sobre a qual ainda não é conhecida decisão. 

A Christie's anunciou entretanto novo leilão, em junho, depois de o  presidente da Parvalorem, Francisco Nogueira Leite, ter assegurado, em audição  parlamentar, o regresso dos quadros a Portugal, até ao final do mês. 

Lusa

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