A Guerra das Estrelas já era um fenómeno global quando em 1994 Diogo Simão veio ao mundo. O jovem cineasta de 23 anos afirma que não se recorda de viver sem 'Star Wars', "Uma das minhas primeiras memórias relacionada com a sétima arte é estar sentado no quarto dos meus pais, de ter para aí uns três ou quatro anos ... e de ver na SIC o 'Star Wars', na altura era 'O Regresso do Jedi'."
A criação de um Império
Quando o primeiro filme da Guerra das Estrelas chegou aos cinemas em 1977, George Lucas estava longe de imaginar que iria dar início a um dos maiores fenómenos do cinema moderno. A primeira intenção do realizador era fazer um filme sobre o "espaço" para miúdos de 12 anos, mas a estreia do filme ultrapassou todas as expetativas com lotação esgotada em muitas das salas onde foi exibido. Mas o que trazia o filme de novo e de tão especial?
"Parte da magia de Star Wars é... fazer-te sentir como uma criança outra vez"
Para Diogo Simão a resposta é simples: "George Lucas construiu o filme à volta de arquétipos, a partir de mitologias, fantasias e desejos que todos nós temos mesmo quando crescemos, porque todas as pessoas, que estão vivas (risos) já foram crianças e acho que nunca deixamos de ser, pelo menos uma parte de nós. Acho que parte da magia de 'Star Wars' é essa... é fazer-te sentir como uma criança outra vez. Acho que se ideia foi essa, ele acertou na 'mouche'. "
O universo de "Star Wars" conseguiu reunir o melhor do misticismo com uns avançados efeitos visuais. A banda sonora, marcante, com assinatura de John Williams tornou o filme ainda mais imponente.
"O 'Star Wars' é completamente indissociável da música. Literalmente, a primeira coisa que aparece no ecrã quando tu vês um filme de 'Star Wars', depois de 'Há muito, muito tempo numa galáxia distante' é a música, os créditos explodem no ecrã, é a primeira coisa que tu ouves, é a primeira coisa que tu sentes", confessa Diogo. Desde que a saga se afirmou como tal, que a banda sonora se assumiu como uma particularidade que depois foi sendo adaptada para outras sagas como "O Senhor dos Anéis" e "Harry Potter".
A Guerra das Estrelas, depois rebatizada de "Star Wars: A New Hope" tornou-se num verdadeiro "blockbuster" e arrebatou os fãs de ficção científica de todo o mundo. O filme rendeu mais de 775 milhões de dólares e conquistou sete Óscares da Academia.
Personagens Míticas
As personagens são outro dos fatores pelo qual o filme vingou e se tornou no que é hoje. A história original centra-se em Luke Skywalker, na Princesa Leia, e em Darth Vader, mas são muitas as personagens míticas que continuam a encantar legiões de fãs.
"O Lucas foi um dos alunos mais atentos de um grande mestre chamado Joseph Campbell, que era um homem que estudava a fundo os mitos e como é que eles afetavam a nossa civilização. Principalmente a utilização de arquétipos, eu creio que isso teve tudo a ver com o desenvolvimento das personagens de 'Star Wars', principalmente das personagens principais. Se nós formos buscar os vários mitos criados ao longo da história da nossa civilização e os compararmos com as personagens de 'Star Wars' podemos encontrar vários paralelismos.", explica Diogo.
"O Anakin Skywalker e o Darth Vader são sem dúvida a personagem mais complexa da saga inteira"
O jovem realizador e ator não tem dúvidas quando lhe pedimos para eleger uma personagem: "o Anakin Skywalker e o Darth Vader são sem dúvida a personagem mais complexa da saga inteira, começa por ser um miúdo inocente, sem noção, até se tornar na força mais destrutiva da galáxia, e que ao mesmo tempo consegue ser bom e mau. Há um balanço que é procurado ao longo dos seis filmes e creio que no final é encontrado."
Mershandising Milionário
No início da saga, George Lucas negociou um ordenado relativamente baixo para os valores praticados em Hollywood, cerca de 450 mil euros. O que pediu em troca? Os direitos e mershandising das personagens. E se na altura isto pareceu uma poupança para os produtores do filme, tratou-se de um mau negócio. Brinquedos, jogos, livros e t-shirts fazem parte de uma espécie de "economia paralela". O que George Lucas perdeu no primeiro contrato ganhou depois. Até agora o mershandising faturou mais de 15 mil milhões de euros.
"Desde o princípio o Lucas sabia muito bem o que estava a fazer."
"Desde o princípio o Lucas sabia muito bem o que estava a fazer. Isto foi "criado para crianças", logo desde inicio, ele sabia, as personagens foram criadas também para serem o mais diferentes umas das outras, de forma a que se conseguisse este objetivo. O Lucas sempre teve o controlo do merchandising do 'Star Wars', e o facto de agora ter passado para as mãos da Disney ainda o torna mais megalómano."
"Isto vai continuar? Vai continuar! E provavelmente vai ficar ainda maior."
Diogo dá um exemplo recente do que um bom marketing e uma máquina oleada de merchandising podem fazer. "O exemplo é a Captain Phasma... havia um grande mistério à volta dessa personagem, que no episódio VII iria ser uma das personagens mais importantes e acabou por estar cerca de cinco ou dez minutos no filme. Mesmo assim montes de pessoas compraram o boneco da Captain Phasma, ou já o tinham à espera que fosse uma das personagens mais relevantes. Só pelo simples facto da personagem parecer fixe e parecer diferente conseguiram vendê-la. Isto tudo através de trailers ou teasers, nem foi preciso ver o filme. Isto vai continuar? Vai continuar! E provavelmente vai ficar ainda maior."
A Perda da Princesa
Faltavam poucos dias para o fim de 2016 quando o universo de "Star Wars" levou um grande abanão. A atriz norte-americana Carrie Fisher, que interpretava a Princesa Leia morreu aos 60 anos. A atriz estava hospitalizada depois de ter sofrido um ataque cardíaco. Carrie começou no cinema na década de 1970, no filme "Shampoo", mas foi com a primeira trilogia da "Guerra das Estrelas", que se tornou mais conhecida. A última aparição de Carrie antes de morrer foi no episódio VII - "Star Wars: O Despertar da Força". Para Diogo Simão o futuro da Princesa Leia não passa por uma reconstrução em CGI (tecnologia que permite recriar os os atores virtualmente), mas sim "arranjar alguma maneira de lhe dar um fim nobre, como deve de ser, um fim em que não se defraudasse o trabalho da atriz com efeitos de computador".
Cerca de uma semana após a morte de Carrie Fisher, alguns fãs começaram uma petição para fazer de Leia, uma Princesa oficial da Disney. Até ao momento a Disney ainda não se pronunciou sobre o assunto.
O que reserva o Futuro
A criação da segunda trilogia de Star Wars no virar do milénio fez parte do desenvolvimento "back story" da saga. Com toda a informação criada surgiram algumas lacunas na história "espacial". Agora com a passagem da Guerra das Estrelas para a chancela da Disney muitos fãs esperam que essas lacunas sejam preenchidas. "Rogue One: Uma história de Star Wars" é o exemplo disso.
"A Guerra das Estrelas centra-se na história da família Skywalker".
Diogo Simão considera o filme "uma história à parte, um complemento que consegue acabar com um dos buracos que existia na história original...porque afinal de contas e até prova em contrário a Guerra das Estrelas centra-se na história da família Skywalker".
A pergunta que se impõe então é:
Star Wars está vivo, recomenda-se e é para continuar?
"Sim, mas por favor que não tomem o mesmo caminho que os filmes da Marvel, que se parecem cada vez mais uns com os outros! Se começar a existir uma abundância de filmes de 'Star Wars', claramente que se vai perder a "especialidade" de cada um deles.", conclui Diogo Simão.
O próximo filme da saga, "Star Wars: Os Últimos Jedi" tem estreia prevista para dezembro deste ano.