Crise no Sporting

E agora, Sporting?

A menos de três semanas de uma assembleia geral cuja realização é ainda incerta, o Sporting vive um dos períodos de maior instabilidade dos últimos anos. Um clima de incerteza que pode comprometer os objetivos do clube na próxima temporada.

André de Jesus

Desde 15 de maio que o Sporting nunca mais foi o mesmo.

Uma invasão à Academia de Alcochete e um ataque sem precedentes na história do clube acentuaram a crispação em Alvalade e extremaram uma crise interna que havia ganho força no dia anterior, depois de uma reunião entre jogadores, treinador e presidente.

Logo após o ataque, vários elementos do plantel leonino recusaram-se a falar com Bruno de Carvalho e o presidente do Sporting passou rapidamente a figurar, aos olhos de várias personalidades ligadas ao Sporting, como o principal responsável pelo acentuar da crise no futebol leonino e do azedar das relações entre jogadores e adeptos, o que, de certa forma, teria motivado o ataque em Alcochete.

A final da Taça de Portugal, que ia opor o Sporting ao Desportivo das Aves apenas cinco dias mais tarde, chegou a estar em risco. Ainda assim, os leões foram a jogo. Não trouxeram o troféu mas o gesto valeu-lhes um agradecimento sentido por parte de vários adeptos.

Dias antes, horas depois do ataque, já tinha estalado a guerra interna entre os órgãos sociais do clube.

A Mesa da Assembleia Geral, liderada por Jaime Marta Soares, começou por se demitir em bloco mas a decisão, segundo o próprio dirigente, nunca se chegou a formalizar.

No meio de um autêntico mar de críticas à direção leonina, sucediam-se as demissões no Sporting. Do próprio conselho diretivo ao departamento médico, passando até pela administração da SAD, foram muitos os que bateram com a porta. Muitos mas não todos.

Bruno de Carvalho rejeitou sempre quaisquer responsabilidades na crise que o clube vivia (e ainda vive). Apontou o dedo a José Maria Ricciardi, à Holdimo e até aos próprios jogadores. E foi nesse ponto que as reações passaram de palavras a atos.

Dias depois do presidente do Sporting ter responsabilizado os jogadores por, de forma involuntária, terem causado o ataque em Alcochete, com um a ser o foco das críticas, a discussão em torno de rescisões por justa causa passou de rumor a certeza.

Rui Patrício, que estava no clube desde os 11 anos, e Daniel Podence, que chegara a Alvalade com uns meros 10, entregaram as cartas de rescisão, alegando justa causa e expondo tudo aquilo por que tinham passado, antes, durante e depois do momento que definiu o extremar da tensão. Mas admitem regressar ao Sporting... com uma condição.

No plano estrutural, e apesar das várias baixas, a direção liderada por Bruno de Carvalho manteve-se firme. Mas esse não era o desfecho pretendido pela Mesa da Assembleia, que, depois de uma reunião infrutífera entre órgãos sociais, anunciou uma assembleia geral extraordinária para destituir o conselho diretivo, o que Bruno de Carvalho classificou de "bomba atómica":

Também o presidente leonino não se ficou apenas pelas palavras e determinou a substituição da Mesa da Assembleia Geral e a convocação de uma reunião magna para o próximo dia 17, cancelando a AG previamente agendada por Marta Soares para dia 23.

O líder da MAG reagiu, falou em "golpe de Estado", avançou com uma providência cautelar contra a direção do clube e deixou uma garantia:

Já esta terça-feira, foi a vez de Bruno de Carvalho voltar a reiterar, de forma veemente, que "não vai haver" a AG extraordinária e também ele quis deixar uma garantia:

Mas quem tem razão afinal? No programa Tempo Extra desta terça-feira, Rui Santos, que analisou os estatutos do Sporting, concluiu que a atual direção não está a cumprir os regulamentos:

É neste clima de incerteza que os leões preparam a nova temporada desportiva. Sem treinador e com a ameaça de outras rescisões ainda a pairar em Alvalade, a instabilidade interna parece não ter fim à vista. E agora, Sporting?

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