Fake News: a ilusão da verdade

A relação dos portugueses com as notícias falsas durante a pandemia

A pandemia de covid-19 provocou alterações nos hábitos de consumo dos media dos portugueses. Um estudo ao fluxo de informação em rede no primeiro confinamento, entre março e abril de 2020, mostra as diferenças ao nível do consumo dos media, a confiança nas instituições e a relação com as notícias falsas.

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Ana Rute Carvalho

Realizado por investigadores do CIES-Iscte, OberCom e MediaLab, o estudo conclui que os jovens entre os 16 aos 23 anos foram os que mais diversificaram no consumo dos media, em março e abril de 2020. Durante o mesmo período, na faixa etária entre os 24 e os 37 anos, houve o maior aumento no consumo de notícias em formato digital.

Entre os 38 e os 56 anos, houve um aumento nas videoconferências e em streamings pagos. Depois dos 56 anos, houve um aumento significativo nas videoconferências e na busca por notícias online. O aumento nos streamings e videoconferências também aconteceu na faixa etária entre os 24 e os 37 anos.

Como avaliam as notícias e o papel das autoridades?

O estudo conclui que 56,5% dos inquiridos confia nas notícias, em geral. O número cresce para os 59,9% em relação aos que confiam, a maior parte das vezes, nas notícias que consomem.

Em relação ao papel das autoridades, 68% dá nota positiva ao Governo, contra 12,8% que considera que teve uma atuação negativa. A nota dada ao Presidente da República é semelhante e a dos media noticiosos é a mais baixa.

As notícias falsas e como agiram os portugueses

Mais de 70% dos inquiridos diz ter encontrado notícias falsas durante o período em análise no estudo e, destes, 50% encontrou pelo menos uma vez por dia e 72% mais de uma vez por semana. Questionados como reagiram, mais de 30% não fizeram nada e apenas 4,3% confirmou a veracidade com a fonte.

O tratamento dado à covid-19 nos meios noticiosos e nas redes sociais

De acordo com o estudo, os meios noticiosos começaram cedo "uma cobertura muito ampla e intesa" à pandemia de covid-19. Enquanto as redes sociais só "despertaram muito mais tarde", mas com "mais intensidade". Até fevereiro, a desinformação nas redes sociais ainda não era muito elevada, ao contrário de outros países.

A partilha de conteúdos falsos, manipuladores ou enganadores sobre a covid-19 em grupos e WhatsApp é muito elevada. O estudo aponta que a partilha destas mensagens é feita "sem qualquer reflexão, verificação ou preocupação" e que a maior parte é "replicada de forma recorrente". Ou seja, em mais de mil mensagens recolhidas, 756 eram repetidas.

As mensagens recorriam em grande parte a um suposto testemunho de especialistas de saúde e teorias da conspiração.

"As desordens informativas nunca vão desaparecer das nossas vidas"

Gustavo Cardoso, um dos autores do estudo, diz que as "desordens informativas" - fake news -, na realidade, "nem sequer tem um formato de notícia" e afirma que estão relacionadas com a confiança de quem envia.

"Um amigo meu ou um familiar envia e eu, a primeira coisa que vou pensar, não é se é falso. Por vezes, é intuitivo e passa ao próximo."

Em entrevista à SIC, fala na desinformação que circula nos grupos de WhatsApp, recordando o falso plano de desconfinamento, e afirma que estas "desordens informativas nunca vão desaparecer das nossas vidas".

Para Gustavo Cardoso, como não há uma solução para as notícias falsas, a única forma para as combater é tentar diminuir a sua disseminação.

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