A Inteligência Artificial (IA) pode analisar “com segurança” as imagens dos rastreios de cancro da mama e assim reduzir a carga de trabalho dos radiologistas, revelam os primeiros dados de um estudo realizado na Suécia.
Esta investigação publicada na revista Lancet Oncology, permitiu, sobretudo, concluir que não há risco para os radiologistas utilizarem softwares de IA para melhor direcionarem as suas análises. Alertam no entanto que são necessárias mais pesquisas para determinar se a AI pode ser usada em programas oficiais de triagem.
80.000 mulheres rastreadas
Os cientistas dividiram em dois grupos 80.000 mulheres com idades à volta de 54 anos para a realização de uma mamografia.
O primeiro grupo foi rastreado da maneira clássica, ou seja, com o olhar de dois radiologistas independentes, enquanto os dados do segundo foram examinados primeiro por IA e depois por um único radiologista.
No final, o grupo assistido por IA não teve pior desempenho e até foi detetado um maior número de casos de cancro.
A taxa de "falsos positivos", ou seja, casos em que o primeiro exame regista erroneamente suspeita de cancro, foi semelhante.
Como é necessário apenas um radiologista no procedimento envolvendo IA, o uso desta tecnologia pode acabar por reduzir para metade a carga de trabalho desses médicos.
Resultados promissores
Estes resultados são promissores porque o rastreio é amplamente considerado uma das principais formas de combate ao cancro da mama.
No entanto, é ainda muito cedo para concluir sobre o real interesse da IA neste campo e serão necessários vários anos de análise para saber se esta ferramenta pode ser tão eficaz como uma dupla opinião humana.
Para fazer isso, os investigadores irão comparar em dois anos a taxa de cancro que escaparam da triagem, mas que foram diagnosticados posteriormente.
Risco de "sobrediagnóstico"
Os dados iniciais do estudo também deixam margem para incertezas sobre o risco de 'sobrediagnóstico', ou seja, de identificar lesões que não teriam evoluído para cancros perigosos sem tratamento.
Esta temática do 'sobrediagnóstico' está no centro de algumas críticas aos méritos do rastreio generalizado, ainda que os estudos confirmem cada vez mais claramente o seu interesse para a redução do cancro da mama.
O risco de 'sobrediagnóstico' deve "encorajar cautela na interpretação dos resultados", alertou o oncologista Nereo Segnan, da Lancet Oncology, que não participou no estudo, num comentário à investigação à AFP.
Segnan reconheceu, no entanto, a natureza promissora do trabalho realizado com IA.