O Infarmed esclareceu esta terça-feira que não existe relação entre o uso de paracetamol por grávidas e malformações no feto ou nos recém-nascidos, depois de o presidente norte-americano ter sugerido uma ligação entre este analgésico e o aumento do autismo.
Na quinta-feira, Donald Trump sugeriu, sem apresentar provas científicas, que o aumento do autismo no país pode ter como causa o uso do analgésico paracetamol em grávidas e a vacinação.
Ladeado por Robert F. Kennedy Jr., secretário da Saúde e um dos rostos do movimento antivacinas no país, Trump sugeriu a imposição de limites ao uso de paracetamol, mais conhecido nos Estados Unidos pela marca Tylenol, durante a gravidez, citando o medicamento como uma possível causa do autismo, apesar de esta ligação causal ter sido investigada e não estar comprovada.
Esta terça-feira, a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) informou que o uso de paracetamol durante a gravidez se mantém inalterado, insistindo na falta de evidências que justifiquem mudanças nas recomendações relativas ao uso daquele analgésico na União Europeia.
"Não foi possível estabelecer uma ligação"
Diz que, em 2019, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) reviu os estudos disponíveis que investigaram o neurodesenvolvimento de crianças expostas ao paracetamol 'in utero', concluindo que "os resultados eram inconclusivos" e que "não foi possível estabelecer uma ligação com perturbações do neurodesenvolvimento".
"Uma grande quantidade de dados provenientes de mulheres grávidas que utilizaram este medicamento durante a gestação indica que não existe risco de malformações no feto em desenvolvimento nem nos recém-nascidos", refere.
O Infarmed sublinha que, quando necessário, o paracetamol pode ser utilizado durante a gravidez e explica: "Tal como acontece com qualquer medicamento para tratamento agudo, deve ser usado na menor dose eficaz, pelo período mais curto possível e com a menor frequência necessária".
Aconselha ainda as mulheres grávidas a falarem com o seu profissional de saúde se tiverem dúvidas relativamente a qualquer medicamento durante a gravidez.
A EMA e as autoridades nacionais competentes na UE "continuarão a monitorizar a segurança dos medicamentos que contêm paracetamol e a avaliar rapidamente quaisquer novos dados que surjam", refere a nota, acrescentando que serão tomadas medidas regulamentares "sempre que se justifique", de forma a proteger a saúde pública.
Trump aconselha mulheres a não o tomarem durante a gravidez
Na segunda-feira, Trump disse que o paracetamol está "possivelmente associado a um risco muito maior de autismo" aconselhando as mulheres a não o tomarem durante a gravidez, mas não apresentou qualquer prova científica.
Em alternativa, apresentou rumores de que "praticamente não há autismo" em Cuba porque o país não tem condições para comprar Tylenol, a marca mais popular de paracetamol.
Os especialistas têm afirmado que o aumento de casos nos Estados Unidos se deve sobretudo a uma nova definição para a perturbação, que passa a incluir casos ligeiros num "espetro" e diagnósticos mais precisos, e que não existe uma causa única.
Com LUSA