Saúde e Bem-estar

Um só caso de sarampo em Portugal é tratado "como se fosse um surto"

O bebé de 20 meses que foi diagnosticado com sarampo ao chegar a Portugal terá contraído a doença na creche que frequenta, no Reino Unido, onde há um surto ativo.

Cláudia Machado

A Organização Mundial de Saúde considerou o sarampo eliminado de Portugal em 2015. Uma classificação que o país mantém, apesar de desde então ter registado pelo menos três surtos da doença - incluindo um, em 2017, que resultou na morte de uma jovem, de 17 anos, não vacinada -, todos de origem importada.

Por isso, sempre que surge um novo caso da doença - como o do bebé de 20 meses internado no Hospital D. Estefânia, em Lisboa, vindo do Reino Unido - este é tratado, desde o início, como se de um surto se tratasse. Ainda que, neste caso e segundo o único ponto de situação feito pela Direção-Geral da Saúde, não tenham sido detetadas mais pessoas infetadas.

"Isto passa a ser uma emergência. Em Portugal não temos casos de sarampo e, portanto, aparecer um caso é como se fosse um surto, há um alerta elevado e faz com que todos os mecanismos sejam acionados e os profissionais se concentrem nesta atividade", explica à SIC Gustavo Tato Borges, presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública.

A criança, diagnosticada a 10 de janeiro, encontra-se estável e deverá ter alta em breve. Terá sido infetada na creche que frequenta, no Reino Unido, onde já foi confirmada a existência de um surto.

O Reino Unido e o País de Gales, aliás, enfrentam um reaparecimento da doença, com surtos em várias localidades e mais do dobro dos casos suspeitos de sarampo registados no ano passado, em comparação com os dados de 2022.

Esta situação pode ser explicada em parte por o país ter uma taxa de vacinação das crianças e jovens contra o sarampo de 90%, quando o recomendado é que este valor seja igual ou superior a 95%, como é o caso de Portugal, ressalva o especialista em Saúde Pública.

Ainda que uma pessoa vacinada e que nunca tenha tido sarampo possa vir a contrair a doença, esta "será muito mais ligeira e sem sintomas de maior gravidade", explica Gustavo Tato Borges.

Já quem nasceu antes de 1970 ou quem já esteve infetado não tem necessidade de receber a vacina graças "à imunidade garantida" que o sarampo produz.

QUAIS OS SINTOMAS E QUANDO É QUE HÁ RISCO DE CONTÁGIO?

As autoridades de Saúde recomendam a vacinação contra o sarampo e apelam a que qualquer caso suspeito seja reportado para a Linha SNS 24 (808 24 24 24).

Por isso, é essencial atenção redobrada aos sintomas que, inicialmente, podem ser bastante "genéricos".

"Dá febre, dá mal-estar, dá tosse, dá acumulação de ranho no nariz, coisas muito ligeiras. Lá para o segundo ou terceiro dia, começam a aparecer manchas brancas na garganta. Ao terceiro ou quarto dia, começam a aparecer as manchas na pele, que começam na cara e depois descem para o tronco todo", descreve o médico, lembrando que sarampo nada tem que ver com varicela, apesar de as duas se manifestarem com manchas na pele.

A varicela "não tem tantos sintomas respiratórios", além de que as manchas do sarampo e da varicela "são diferentes". As primeiras "começam na cabeça e descem para o corpo todo e as da varicela podem aparecer em qualquer parte do corpo, em qualquer altura, levando a que na mesma zona possamos ter lesões novas e lesões antigas".

O período de contágio do sarampo está diretamente relacionado com as manchas na pele: pode acontecer até quatro dias antes e até quatro dias depois do seu aparecimento.

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