Os primeiros meses de gravidez são propícios à ocorrência de náuseas e vómitos, mas nem todas as mulheres os têm na mesma intensidade. Um estudo publicado na revista científica Nature concluiu que a diferença poderá estar na sensibilidade da mulher a uma hormona que é produzida na placenta.
As mulheres que são mais sensíveis à hormona GDF15 podem vir a sentir náuseas e vómitos severos, conhecidos como hiperémese. Esta condição, que atinge entre 0,3% e 2% das grávidas, é caracterizada pela ocorrência de vómitos abundantes e prolongados, que podem causar desidratação e perda de peso.
Por outro lado, mulheres com níveis altos de GDF15 antes de engravidar registaram poucos enjoos durante a gravidez.
“Nós temos agora uma visão clara do que pode causar este problema e o percurso para tanto o tratamento como para a prevenção”, explica à Nature Stephen O’Rahilly, investigador na área do metabolismo na Universidade de Cambridge e coautor do estudo.
A GDF15 é uma hormona que se liga aos recetores cerebrais e desencadeia náuseas. É produzida em pequenas quantidades pela próstata, bexiga e rins e foi também encontrada na placenta.
Os níveis de GDF15 aumentam quando se ingerem substâncias tóxicas ou durante os primeiros meses da gravidez, provocando náuseas e vómitos.
Segundo O’Rahilly, esta hormona tem uma função importante durante a gravidez: evitar que as mulheres ingiram substâncias tóxicas para o feto. O investigador lembra que não é preciso aumentar a quantidade de comida ingerida nos primeiros meses da gravidez, mas é “muito mais importante ser cuidadoso com o que se come para proteger o feto das toxinas”.
Um tratamento a caminho?
É ainda cedo para apontar uma possibilidade de tratamento, mas a identificação da hormona poderá abrir portas a novas investigações. Os autores deste estudo sugerem que a administração da hormona antes da gravidez pode atuar como dessensibilizador, diminuindo o risco de desenvolver hiperémese.
Os investigadores verificaram que a administração de uma forma de GDF15 de longa duração pode atuar como prevenção dos enjoos. Num teste realizado em animais, os investigadores injetaram esta forma num grupo de ratinhos e, no outro, administraram placebo. Três dias depois, ambos os grupos receberam uma dose de GDF15, tendo o grupo que recebeu placebo registado uma diminuição de peso e da quantidade de alimento ingerido. Os ratinhos que tinham recebido GDF15 não registaram alterações.
Além disso, os investigadores questionaram mulheres que, devido a uma condição sanguínea vivem com elevados níveis de GDF15, sobre a experiencia de enjoos durante a gravidez. Apenas 5% afirma ter sentido náuseas e vómitos, uma percentagem bastante abaixo da média, que ultrapassa os 60%.
Outra abordagem poderá passar pela administração de anticorpos que bloqueiam a GDF15 ou os recetores desta hormona. No entanto, esta possibilidade levanta algumas questões sobre o papel da GDF15 na gravidez.
“Nada sabemos sobre o papel da GDF15 na gravidez normal”, afirma Catherine Williamson, obstetra e investigadora na Imperial College London, citada pelo Nature.
Sem perceber o papel desta hormona, a atuação de um bloqueador poderá colocar em causa a saúde do feto. De lembrar que na década de 1950, a utilização do medicamento talidomida, que tinha como objetivo reduzir os enjoos, teve consequências graves na formação dos membros dos bebés. Por essa razão é preciso realizar mais estudos antes de prosseguir para uma forma de tratamento.