Saúde e Bem-estar

Sete dicas para treinar e fortalecer a memória

O processo de desgaste da memória não é inevitável, quem o garante é Richard Restak, neurologista norte-americano, professor universitário e autor de vários livros sobre a mente e a saúde do cérebro.

A leitura, em especial de obras de ficção, ajuda a estimular a memória.
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Elisa Macedo

Com o passar dos anos, o medo de perder a memória e as capacidades cognitivas aumenta. Os esquecimentos mais frequentes, de coisas simples do dia a dia ou factos e nomes que deveriam estar sempre presentes, podem ser uma preocupação. Contudo, esse processo de desgaste não é inevitável. Richard Restak apresenta sete recomendações fundamentais para garantir uma memória ativa e em boa forma ao longo da vida.

Aos 81 anos, o neurologista, neuropsiquiatra e professor da Escola de Medicina e Saúde do Hospital da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, orgulha-se de ter uma memória impecável.

Em entrevista à BBC News Mundo, o também autor de cerca de 20 obras sobre a mente e a saúde do cérebro, lembra que é preciso exercitar a memória diariamente, tal como se deve exercitar o corpo.

Na lista de recomendações para manter a memória ativa e jovial, Richard Restak começa por realçar a importância da leitura.

1. Ler livros de ficção

O neurologista explica que a leitura é importante para estimular a memória, mas sublinha que as obras de ficção são claramente mais úteis para esse propósito.

“Os livros de não ficção não exigem muito da memória: é possível ler o sumário e centrar a atenção apenas no que nos interessa”, diz Restak.

"Por outro lado, a ficção é muito mais exigente do ponto de vista da memória, especialmente se estiver a ler um romance complexo. Nestes livros, as personagens aparecem e desaparecem. É possível encontrar alguém no capítulo dois que depois não aparece até ao capítulo 10. Manter o fio condutor da história, os vínculos entre personagens e os detalhes do enredo exigem um maior esforço de memória do que nos textos de não ficção", explica o neurologista.

2. Associar imagens a palavras

Transformar palavras em imagens é um princípio básico para ter uma memória sempre fresca. Restak dá o exemplo concreto de um apelido e das estratégias mentais que se podem usar para o fixar.

Se o nome é Greenstone, em português "pedra verde", o conselho é para imaginar e visualizar precisamente a imagem de uma pedra verde. O neurologista garante que essa estratégia simples vai ajudar a mente a lembrar-se desse apelido rapidamente.

"Se não o fizer e ficar sozinho com as palavras, pode não se lembrar mais tarde se o apelido é Pedra Negra ou Pedra Azul, por exemplo", refere Restak.

O professor recorre ainda a outros truques de associação de imagens a palavras para melhorar a memória. Restak cria um mapa mental de lugares com os quais está muito familiarizado, como o seu bairro, para os associar a coisas que tem de fixar.

Se o objetivo for lembrar-se de comprar pão e leite, o neurologista explica a estratégia: "Imagino a minha casa virada de lado, com leite a sair pela chaminé (como um pacote de leite) e a escorrer pela rua. E quando passo pela biblioteca e olho pela janela, imagino que as prateleiras estão cheias com fatias de pão em vez de livros".

3. Praticar jogos de memória e raciocínio

Restak conta que um dos seus jogos favoritos para uma festa de família chama-se "20 perguntas", um excelente exercício de memória no qual um jogador (ou grupo) deve pensar numa pessoa, coisa ou lugar, e outro jogador (ou grupo) deve adivinhar o que é fazendo até 20 perguntas, que só podem ser respondidas com um sim ou um não.

A maior dificuldade deste jogo consiste em fixar todas as perguntas e respostas de modo a não repetir questões e conseguir chegar à resposta correta.

Os jogos de memória e raciocínio são desde tenra idade aconselhados para estimular a mente. Melhoram a capacidade cognitiva, o foco e a concentração. Ao exercitar o estado de "atenção plena", este tipo de jogos promove o treino da memória.

4. Usar a tecnologia de modo inteligente

O uso de telemóveis, por exemplo, pode enfraquecer a memória, mas também pode contribuir para a estimular, se houver essa intenção. A ideia é "não substituir a memória pelo aparelho, mas usar primeiro o cérebro e depois verificar seu desempenho", explica o especialista.

Fazer uma lista de compras no telemóvel é um hábito que pode dispensar o recurso à memória. Mas também pode ser usado a seu favor, se no momento em que estamos na loja ou no supermercado, fizermos um esforço para nos lembrarmos de tudo o que precisamos e só no final formos à lista para confirmar.



Restak refere ainda outra estratégia que se pode utilizar com novos produtos que registámos para comprar mais tarde. No momento da compra, devemos procurar primeiro na loja e só depois confirmar se coincide com a imagem que guardámos no telemóvel.

5. Fazer uma sesta curta

Apesar de em algumas culturas não gozarem de grande reputação, várias investigações apontam para o benefício das sestas, em particular das sestas curtas.

O neurologista norte-americano diz que esse é um dos seus segredos. Restak costuma fazer uma sesta todos os dias, hábito que tem ajudado a absorver informações e codificar a memória.

O especialista reforça, contudo, a ideia de que a sesta não deve ser prolongada. A recomendação é dormir entre 20 e 40 minutos.

"Dormir mais de uma hora vai interferir no sono noturno. Por isso, é preciso ajustar o alarme ou pedir a alguém para nos acordar", realça.



6. Cuidado com a alimentação

A alimentação é a última recomendação para manter a memória em forma, mas não é a menos importante. Mais do que evitar alimentos específicos, Restak diz que a chave é evitar certo tipo de alimentos como os ultra processados, referindo-se aos que têm excesso de gorduras, sais, conservantes, etc.

"Esses alimentos não fazem bem à memória porque diminuem a circulação sanguínea em áreas ligadas à memória a longo prazo, causam hipertensão e diabetes. Doenças que podem levar à demência", explica Restak.

Um estudo recente vem novamente confirmar a importância da alimentação para a saúde mental. Uma investigação publicada este mês na BMC Medicine, mostra que a dieta mediterrânica, considerada uma das mais saudáveis, contribui tanto para a redução dos riscos de demência como para aumentar a longevidade.

Uma alimentação rica em vegetais, legumes, nozes e peixe, a base da dieta mediterrânica, pode ter um "efeito protetor" contra a demência, independentemente do risco genético do indivíduo.

Obras de Richard Restak

Autor de cerca de 20 livros relacionados com as questões da mente e da saúde do cérebro, o neurologista norte-americano tem décadas de experiência na orientação de doentes com problemas de memória.

No livro "O Guia Completo da Memória: A Ciência do Fortalecimento da Mente", Richard Restak indica várias recomendações para exercícios mentais, hábitos de sono e dieta que podem ajudar a melhorar a memória.

Em português estão publicadas cerca de meia dúzia de obras, incluindo "Mente Saudável Mente Brilhante", “O Cérebro Humano” e "A Idade da Renovação", nesta última o autor releva as mais recentes descobertas científicas que demonstram que é possível conservar a capacidade mental à medida que se envelhece.

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