Repórteres do Mundo

Relações abusivas na adolescência, recrutamento para a guerra à força e uma cadela com um talento especial

No Reino Unido, o aumento dos casos de violência no namoro entre adolescentes preocupa as autoridades, 35% das raparigas já receberam ameaças de morte. Na Ucrânia, a forma como os homens estão a ser levados para a guerra está a motivar protestos. E, nos Estados Unidos, a cadela Alma encontra dinheiro escondido nos sítios mais improváveis. Estes são alguns dos destaques do Repórteres do Mundo.

SIC Notícias

"Não confiava em mim, nem para ir fazer as unhas": um retrato das relações abusivas entre adolescentes

A história de Marnie, nome fictício, é um exemplo perturbador do que muitas adolescentes enfrentam em silêncio. Os casos de abusos psicológicos e controlo coercivo dos namorados aumentam todos os anos. As organizações de apoio à vítima alertam que é urgente educar, prevenir e criar espaços seguros para que jovens, como Marnie, possam reconhecer os sinais e pedir ajuda. O silêncio nunca é a resposta.

Marnie tinha 16 anos quando começou a sua primeira relação séria. O amigo que se transformou em namorado mostrou um lado até então desconhecido e o entusiasmo inicial rapidamente deu lugar ao isolamento, à vigilância constante do telemóvel e à perda da liberdade.

"Quando saía com os amigos, recebia telefonemas e mensagens constantes. Não me deixava em paz para desfrutar do tempo com os meus amigos. Ele aparecia nos locais onde eu estava com as minhas amigas, porque não confiava em mim, nem para ir fazer as unhas."

O controlo tornou-se sufocante: proibição de ver amigos, acusações infundadas, gritos e uma vigilância obsessiva.

"Ele apagava mensagens da minha mãe e escondia o telemóvel. Eu nem sabia que ela me tinha tentado contactar."

Só dez anos depois, Marnie procurou ajuda para lidar com ataques de pânico frequentes. Foi diagnosticada com perturbação de stress pós-traumático, resultado do impacto dos repetidos abusos psicológicos.

"Eu não acreditei no facto do que tinha estado numa relação abusiva, porque nunca me tinham dito que era o que estava a acontecer. Não fazia ideia."

Dados da organização britânica Refuge, entre abril de 2024 e março de 2025, revelam um preocupante aumento de casos de violência em relações de adolescentes. Seis em cada 10 jovens mulheres e raparigas, que se disseram vítimas de abusos psicológicos, admitiram ter sofrido de controlo coercivo. Trinta e cinco por cento recebeu ameaças de morte e 62% sofreu violência física, sendo que metade disse que foi estrangulada ou sufocada.

Kate Lexen, diretora da organização Tender, alerta para outro fenómeno preocupante: crianças entre os 9 e os 11 anos já discutem temas como estrangulamento e exibem comportamentos misóginos, influenciados por conteúdos online. Há mais de 20 anos que a Tender organiza sessões educativas sobre relações saudáveis em escolas e colégios.

"Sem educação preventiva eficaz desde cedo, os impactos serão astronómicos."

Elaha Walizadeh, da Refuge, confirma o aumento de denúncias e refere que o abuso começa frequentemente com sinais subtis.

"O controlo coercivo, impedir que vejam amigos ou familiares, é o início de um padrão que se agrava."

Há sinais que denunciam este tipo de abusos nas relações, a atenção de família e amigos são fundamentais para os detetar:

  • Isolamento social
  • Vigilância constante do telemóvel
  • Ameaças verbais
  • Proibição de atividades individuais
  • Manipulação emocional

Recrutamento à força? O outro lado da guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia enfrenta uma dupla crise: a escassez de armamento e a falta de pessoal militar. Com cada vez menos voluntários e um número crescente de baixas, o país recorre a medidas extremas para reforçar as suas tropas. Homens são recrutados de formas pouco convencionaus nas ruas, em cafés e até em discotecas, numa tentativa desesperada de preencher as fileiras do exército.

Anna, de 33 anos, vive momentos de angústia. O marido foi levado pela polícia após uma verificação de rotina e encontra-se agora num centro de mobilização, sem saber o paradeiro exato ou o que o espera, Anna escreve-lhe uma carta de amor, na esperança de que ele a receba.

“Disseram-me que ele estava a fazer testes médicos. Prometeram que me ligaria ontem, mas não aconteceu. Hoje estou aqui outra vez.”

Ela reconhece que o marido está legalmente obrigado a servir, mas questiona a forma como tudo aconteceu:

“Não há escapatória, ele vai servir. Mas gostava de saber onde estará e o que fará. Isto não devia ser assim. Se é obrigatório, que seja de forma humana.”

Kateryna, designer de joias, também viu o namorado ser levado numa operação de fiscalização de trânsito. Um dia depois, embarcou num comboio para o visitar, num reencontro marcado pela emoção.

“Foi um momento bonito em tempos difíceis.”

Em Kyiv, os memoriais multiplicam-se, as pessoas homenageiam os soldados que não voltaram. Por toda a cidade é visível o preço elevado da guerra.”

Anna, Kateryna e muitas outras mulheres e mães tentam manter a esperança. Recorrem ao apoio dos amigos, enquanto aguardam notícias destes solvados levados "à força".

Palestine Cola: cresce o boicote a marcas ligadas à ocupação na Palestina

As imagens da fome em Gaza motivaram uma onda de críticas. Milhões de pessoas juntam-se em protestos para exigir uma condenação mundial. Nos Países Baixos, a contestação chegou em forma de boicote a marcas associadas às ações israelitas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Airbnb, Booking.com e Coca-Cola têm sido os alvos de grupos de cidadãos contra Israel. A Coca-Cola foi retirada de alguns bares e restaurantes, nos Países Baixos, que passaram a servir alternativas como a Palestine Cola.

Ilco van der Linde é proprietário de uma casa para alugar em Amesterdão, a Casa Mandela. A inspiração para o espaço vai muito além do nome. Nelson Mandela é o homem que lIco mais admira.

"Não sou verdadeiramente livre enquanto os palestinianos não o forem. Como é que se começa uma fábrica num território ocupado e se enriquece Israel com isso? O boicote é a nossa forma de resistância."

Embora o impacto económico direto do boicote a estas marcas seja limitado, os efeitos reputacionais nos Países Baixos podem ser duradouros.

"Pode não afetar muito as receitas, mas afeta a imagem da marca."

O impacto das ações dos neerlandeses vai muito além do boicote. A porta-voz da Cruz Vermelha, Daniëlle Brouwer, revelou que as doações para Gaza triplicaram nas últimas semanas. E garante que, apesar das dificuldades em fazer chegar a ajuda devido aos bloqueios, o dinheiro está a ser canalizado diretamente para os habitantes daquele terrirtório.

A solidariedade assume também formas criativas. Jack Schoneveld está a caminhar de Tilburg até Roma para angariar fundos para os Médicos Sem Fronteiras.

Porque está a Noruega a bater recordes de turismo?

A Noruega está a viver um verão histórico no setor do turismo, com números que apontam para um possível recorde de visitantes em 2025. A tendência global de procurar destinos mais frescos, conhecida como "coolcation", aliada à desvalorização da moeda norueguesa, tornou o país escandinavo mais acessível e irresistível para turistas de todo o mundo.

A beleza natural, a segurança e a possibilidade de combinar experiências urbanas com aventuras ao ar livre lideram a lista de prioridades de quem escolhe passar férias na Noruega. 2024 já tinha sido um ano de recordes no turismo, 2025 está a ultrapassar todos os valores e os elogios dos turistas multiplicam-se.

"Fomos ver os fiordes ontem e foi incrível! Foi isso que nos trouxe aqui. A Noruega é linda. É número um!"

Oslo, a capital norueguesa, está a registar um crescimento notável. O responsável pelo turismo da cidade diz que é resultado do trabalho feito nos últimos anos.

"O mais gratificante é ver que estamos a trabalhar muito para o mercado internacional, e agora está a aumentar mais de 20% o número de visitantes. Temos muito espaço, boa temperatura, muitas opções em todo o país, o que proporciona uma experiência completa com natureza, fiordes e cidades."

Até junho, os dados mostram um aumento significativo nas dormidas, especialmente de estrangeiros. Os turistas que mais visitam a Noruega são dos Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Reino Unido e França.

Euros, dólares, reais ou francos suíços, nada escapa ao faro de Alma

Os cães farejadores são quase sempre treinados para procurem pessoas, drogas ou explosivos. Na Alemanha, há uma cadela com uma missão especial: encontrar dinheiro escondido.

Alma foi treinada, como muitos outros cães, numa escola da polícia em Pirna, na Saxónia, na Alemanha. Andre Brendler é o responsável pelos treinos. Há mais de 25 anos que faz este trabalho e descobriu nesta cadela um talento especial.

"Alma é uma cadela experiente, já esteve em inúmeras missões e encontrou muitas centenas de milhares de euros."

Durante os treinos, são usados mil euros em notas reais e 80 mil euros em notas trituradas. Alma é posta à prova e não falha. Quando encontra dinheiro, deita-se para sinalizar. Euros, dólares, reais ou francos suíços, nada escapa ao faro desta cadela.

"Temos esconderijos incríveis, como secretárias com compartimentos secretos. As pessoas não os encontram, mas o cão encontra."

Alma tem sido chamada para localizar notas escondidas em casas, especialmente quando há suspeitas de que alguém falecido deixou dinheiro guardado. Seja para vender uma casa ou garantir que não há valores esquecidos, Alma entra em ação.

Contratar uma equipa canina de deteção custa entre 780 e 900 euros. Pode não valer a pena para encontrar uma carteira perdida, mas para casos mais complexos, Alma é a solução.

Salsichas provocam batalha na Alemanha

A batalha pela origem da Bratwurst aqueceu e não é só na grelha. Regensburg contra Erfut: onde nasceu a mais famosa salsicha da Alemanha? Há uma descoberta recente que pode mudar a história gastonómica do país.

Durante séculos, Regensburg reivindicou o título de berço da famosa salsicha alemã, com a primeira menção documentada datada de 1378, ligada à histórica Wurstkuchl, uma das mais antigas tabernas de salsichas ainda em funcionamento.

Agora, Erfurt entra em cena com uma descoberta que pode mudar a história da Bratwurst. Um historiador local encontrou um documento que menciona uma barraca de salsichas num mercado de Erfurt em 1269. Isso coloca a cidade da Turíngia 109 anos à frente de Regensburg na cronologia da Bratwurst.

Segundo Martin Sladeczek, responsável pelo projeto da Cidade Património Mundial de Erfurt, este é "o mais antigo registo escrito conhecido de uma barraca de assados, uma grelha, ou como se lhe queira chamar".

As duas cidades prometem disputar o título, mas o proprietário da taberna Wurstkuchl, Andreas Meier, não parece preocupado com as datas.

"Não é assim tão importante para nós sermos os mais antigos. O mais importante é que seja fresco. Tudo o que se vende aqui é produzido fresco todas as manhãs. Exceto aos domingos".

Enquanto os especialistas debatem a antiguidade da Bratwurst, os habitantes de Erfurt celebram com orgulho. Já em Regensburg, a notícia foi recebida com fair play e todos dizem que o mais importante é o sabor.

A disputa está longe de terminar. Os arquivistas continuam à procura de documentos históricos para provar a antiguidade das salsichas. Até lá, a história da Bratwurst permanece em aberto, mas deliciosamente disputada.

Repórteres do Mundo mostra as diferentes perspetivas e a diversidade cultural em reportagens das mais de 40 televisões parceiras da SIC. Sábado, às 15h30, na SIC Notícias.

Últimas