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Dentro das salas de consumo de drogas: "É triste eu ter de consumir na rua e ver uma criança a passar"

As salas de consumo de drogas em Portugal são espaços legais adaptados para quem fuma e injeta drogas ilícitas, previstas na lei desde 2001. Atualmente, existem três salas no país, que ajudam a reduzir os danos para os utilizadores e contribuem para tirar os consumos da rua, especialmente em cidades como Lisboa e Porto, onde o número de consumidores de drogas tem aumentado. Veja aqui a Grande Reportagem "Muitos anos na vida".

Catarina Neves

Em Lisboa, no bairro da Mouraria, existe a sala de consumo chamada In Mouraria, que funciona há vários anos, mas obteve licença apenas em fevereiro. Este projeto foi iniciado pelo Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT). Em Portugal, há duas salas fixas em Lisboa, uma estrutura móvel (um contentor) no Porto e uma unidade móvel que opera somente em Lisboa. Esses espaços contam com assistentes sociais, enfermeiros e "pares" — pessoas que já consumiram drogas e hoje estão em recuperação, como João Santa Maria, coordenador dos pares no GAT In Mouraria.

A primeira sala de consumo do mundo foi aberta em junho de 1986, em Berna, na Suíça. Atualmente, existem mais de 100 salas em países como Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suíça, Austrália, Canadá, México e EUA.

As drogas consumidas nas salas de consumo diferem das usadas em festivais, onde prevalecem MDMA, cocaína e LSD. Em Portugal, a Kosmicare e a Polícia Judiciária são as únicas instituições com laboratórios que analisam a adulteração das drogas em circulação em Lisboa.

A Kosmicare, que existe há oito anos, conseguiu financiamento em 2022 para testar drogas nas salas de consumo da capital, mas o projeto foi interrompido quando o financiamento acabou e retomado no início de fevereiro passado. A Kosmicare continua a atuar em festas e festivais e oferece o serviço de "drug checking" num espaço na Penha de França, em Lisboa.

Na sala de consumo gerida pela associação Ares do Pinhal, localizada na Quinta do Loureiro, no Vale de Alcântara, Lisboa, e aberta desde maio de 2021, mais de 20 anos após a requalificação do bairro, ainda há preocupações com o aumento do consumo e do tráfico de drogas.

Em fevereiro, o presidente da junta de freguesia de Alcântara e o então presidente de Campo de Ourique expressaram essas preocupações numa carta aberta. Quinze dias depois, a Câmara de Lisboa instalou grades sob o viaduto pedonal da Avenida de Ceuta.

No Porto, o hospital de São João é uma das duas unidades de saúde que envia semanalmente uma equipa para dar consultas de infecciologia na sala de consumo assistido. Esta sala, aberta desde agosto de 2022, ao lado do Bairro da Pasteleira Nova, recebeu 1.931 consumidores e registou 51.114 consumos no primeiro ano de funcionamento. Oito meses após a abertura, a sala já registava mais de 200 consumos por dia, atingindo a capacidade máxima.

A maioria dos consumidores são homens portugueses, com idades entre 40 e 54 anos, em situação de sem-abrigo, e que consomem principalmente heroína e crack por via fumada.

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