Investigação SIC

"As pessoas estão desesperadas": centenas dormem no aeroporto de Madrid

Centenas de pessoas, entre elas grávidas e menores, dormem diariamente no aeroporto de Madrid. A situação piora no inverno com as baixas temperaturas. Em menor escala, também o aeroporto de Lisboa abriga dezenas de sem-abrigo.

Diana Pinheiro

Fernando Silva

Tiago Romão

Fernando Ferreira

Luís Garriapa

“As pessoas põem os colchões e fazem uma espécie de cama”, conta uma das centenas de pessoas que dormem (ou tentam dormir), todos os dias, no aeroporto de Madrid. "Se adormecer, há sempre alguém à espera pra me roubar o pouco que tenho", alerta outro sem-abrigo. “Temos um olho aberto e outro fechado”, resume.

Localizado numa zona mais escondida no aeroporto de Barajas, o corredor está praticamente cheio. Para milhares é apenas um local de passagem. Para centenas tornou-se casa.

Grávidas e menores em situações precárias

Sozinha, grávida de gémeos e com um filho menor, há uma mulher que encontrou no local o conforto possível, em novembro do ano passado, depois de ficar sem casa. Ao longo de trinta noites, diz que poucas horas conseguiu dormir. Após ser despedida, a vida mudou completamente.

Deixou de conseguir pagar a renda do quarto de 550 euros e descobriu que tinha uma gravidez de risco. A falta de cuidados levou a que perdesse um dos bebés nas primeiras semanas de gestação.

Também Jacline, grávida de cinco meses, dorme no aeroporto de Madrid há cerca de dois meses. Natural do Peru, veio para Espanha à procura de estabilidade financeira - objetivo cada vez mais distante.

Ficou sem passaporte durante um assalto e, sem esse documento, ninguém a contrata, nem tão pouco consegue ter acompanhamento médico na gravidez.

“As pessoas estão desesperadas. Ninguém sabe o que fazer”, relata.

Número de sem-abrigo dispara em Espanha

Devido ao frio, no final do ano passado, a Câmara Municipal de Madrid ativou um plano para oferecer casa e refeições quentes.

Mas as cerca de 430 vagas disponíveis estão longe de responder às necessidades dos 6.000 desalojados só na capital espanhola. O número de sem-abrigo aumentou 25% nos últimos 10 anos.

Lisboa vive cenário parecido

Numa escala ainda menor, também o aeroporto de Lisboa serve diariamente de abrigo a dezenas de pessoas. No piso superior, bancos e até o chão servem de cama aos que aqui dormem todos os dias.

À investigação SIC, a Ana - Aeroportos Portugal diz que a permanência de sem abrigo agravou-se no último ano, em parte, devido ao encerramento de outras infraestruturas na capital, como a estação da Gare do Oriente.

Nos últimos meses, foram reportados casos isolados de agressividade para com os trabalhadores e passageiros. Para assegurar o bem-estar destes, o aeroporto já pediu à PSP, a Câmara de Lisboa e outras entidades sociais para " encaminhar cada uma destas pessoas para uma resposta social adequada à sua situação específica".

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