Em 2008 assistimos à queda de um banco. Era um pequeno banco. Tão pequeno que passou pelo buraco da agulha do Banco de Portugal. Afinal, o líder era o reputadíssimo José Oliveira Costa, antigo quadro do Banco de Portugal, antigo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva.
Em 2008, o país foi surpreendido com a nacionalização do Banco Português de Negócios, BPN. O banco das poupanças do, à época, Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, andara a iludir o supervisor com lucros estratosféricos que escondiam prejuízos reais. O supervisor acreditara no conto do vigário. Foi o próprio Vítor Constâncio, então governador do Banco de Portugal, quem acabaria por reconhecer que a instituição tivera dificuldade em desconfiar de um homem que fora seu quadro influente até 1991.
A queda do BPN e os milhões de prejuízo que ela trouxe ao país, foi a primeira de muitas quedas. Em todas – BPP, Banif, BES – se tem questionado o trabalho da supervisão. O Banco de Portugal, a quem o legislador impõe a obrigação de monitorizar a forma como os banqueiros, donos dos bancos, zelam pelo dinheiro que é dos depositantes, cegou ante a queda dos pequenos BPN, BPP e Banif e desse gigante secular da alta finança chamado BES.
O país ainda está, e estará, em processo de nacionalização dos prejuízos dos bancos que ruíram, depois de ter assistido, anos a fio, ao enriquecimento súbito, e depois continuado, dos acionistas. Milhares de lesados, a maioria aforradores de pequena escala, ficaram a olhar para as nuvens vendo as poupanças de uma vida diluídas em produtos financeiros tóxicos.
Portugal pode perder 8 mil milhões de euros com o BPN (mais de metade desse valor já perdeu); perdeu 3 mil milhões com o Banif e emprestou 4 mil milhões ao fundo de resolução para capitalizar o Novo Banco e já não sabe quando e como os irá receber.
O país perdeu tudo isso, nas barbas das autoridades reguladoras – Banco de Portugal e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
E esse é o ponto de ligação entre toda a ruína financeira em que o país mergulhou: a incapacidade do regulador em antecipar a queda; a forma como o regulador se tem deixado iludir.
Na SIC, chegou o momento de nos voltarmos para o regulador.
Em 2013 analisámos a fundo a escândalo BPN (Grande Reportagem “Fraude”, emitida em 4 episódios). Em 2014 ficámos a conhecer o perfil dos maiores devedores do BPN – os que pediram milhões e que nunca pagaram; os que pediram milhões e que os gastaram; os que pediram milhões, que os gastaram e que continuam pelo mundo, cheios de projetos e ideias (Grande Reportagem “Depois da Fraude”, emitida em 2 episódios). Em 2016 revolvemos o escândalo do Banif e a forma como o fundador criou um império alicerçado nos vazios da alta finança.
No arranque de março emitiremos três episódios sobre o trabalho do Banco de Portugal no caso BES. Um vasto conjunto de revelações que fomos desbravando ao longo de cinco meses.
Antes desse desafio, recuemos. A história começa em 2008, com a nacionalização do BPN. O BPN era um pequeno banco… tão pequeno que passou pelo buraco da agulha do supervisor.
A Fraude
1ª parte: A Linha do Tempo
Esta primeira parte faz um sobrevoo sobre os dez anos de Oliveira e Costa na SLN/BPN, identificando os momentos que criaram lodo nas contas do banco. Um relato histórico detalhado – ano a ano. Como foi possível esconder prejuízos durante uma década?
2ª parte: Anatomia de um golpe
A Grande Reportagem fecha o ângulo na fraude e explica a forma como o dinheiro dos depositantes serviu para financiar negócios ruinosos e alimentar empréstimos, sem garantias, a figuras próximas da administração da SLN.
3ª Parte: No rasto do dinheiro
Tentamos perceber se a verba que anda perdida na centena de offshores criadas pela gestão de Oliveira Costa pode, ou não, ser recuperada. Estamos a falar de uma parcela gigantesca, na ordem dos 700 milhões de euros.
4ª parte: Caixa Negra
Depois da Fraude
1ª Parte: A Herança
A Parvalorem gere uma carteira de dividas de 4,5 mil milhões de euros. Contudo, gere igualmente os 300 funcionários do BPN que ainda resistem e que não foram contratados pelo BIC quando o banco angolano comprou o BPN. A Grande Reportagem mostra-lhe uma empresa doente, que esteve parada, literalmente, durante dois anos.
2ª Parte: A Cobrança
Depois da Fraude, a Cobrança. Revelamos onde foi gasto o dinheiro que saiu dos cofres do BPN e que hoje alimenta o buraco do banco de Oliveira Costa.