O Futuro do Futuro

“Estamos na situação de crise climática, porque os governos a nível mundial não têm dado a devida atenção ao conhecimento científico”

Núria Baylina, diretora de Biologia e curadora do Oceanário de Lisboa, alerta para a necessidade de uma pesca menos abusiva, e considera que é chegada a hora de as autoridades nacionais tomarem o Livro Vermelho das espécies marinhas como uma referência para ações futuras. Oiça aqui a entrevista ao podcast o Futuro do Futuro

O Futuro do Futuro

Há dias assim na vida dos corais. Tudo começa com o lançamento de gâmetas para a água que acabam por levar à fecundação e, depois, à reprodução de larvas que um dia haverão de se tornar em novos corais. No papel, a lei da vida parece fácil. Nos oceanos a realidade é bem diferente. Boa parte dos recifes de corais encontra-se sob ameaça. E foi por esse o motivo que levou o oceanário a tentar conhecer um pouco melhor a “intimidade” destes curiosos animais.

“Aquilo que estamos a fazer é exatamente um trabalho preparatório”, explica Núria Baylina, diretora de Biologia e curadora do Oceanário de Lisboa, em entrevista ao podcast Futuro do Futuro. “Estamos a estudar estes processos em várias espécies, para conseguir documentar como é que se faz para cada espécie, porque não é igual para todas e para que esta informação, depois, em caso de necessidade, possa ser utilizava no meio natural ”, acrescenta a bióloga.

O caso não é para menos: boa parte dos recifes de corais está ameaçada. Se o pior dos cenários se confirmar, 25% das espécies existentes serão afetadas diretamente pelo desaparecimento de diferentes espécies de corais. E é precisamente devido à importância científica e biológica do estudo do corais que Núria Baylina respondeu ao primeiro desafio do Futuro do Futuro com imagens que mostram o momento de reprodução destes animais marinhos que se encontram no oceanário.

No segundo desafio do podcast Futuro do Futuro, a investigadora trouxe um som que a acompanha diariamente – e que é produzido pela passagem da água no aquário central do Oceanário. Com este segundo desafio, Núria Baylina pretende reforçar o papel que os Oceanários podem ter na recuperação e reabilitação de espécies marinhas.

Em paralelo com o estudo dos corais, o Oceanário tem vindo a participar no resgate de cavalos marinhos na Trafaria, concelho de Almada, bem como em projetos de estudo de jamantas nos Açores, do ratão-bispo no Mediterrâneo e, mais recentemente, de raias e tubarões em Angola.

Nos tubarões, mais de 32% das espécies avaliadas estão em risco de extinção – e Núria Baylina aponta para os efeitos negativos que o desaparecimento de predadores pode ter no controlo de espécies ou na biodiversidade como um todo. Mas não é preciso pôr o escafandro para descobrir mais elementos negativos neste panorama subaquático.

“Corremos o risco de não voltar a ver algumas espécies daqui a uns anos na nossa costa”, avisa a investigadora.

Para saber quais as espécies em risco de desaparecimento, o Oceanário de Lisboa tem vindo a participar na elaboração do Livro Vermelho que haverá de elencar até ao final de 2024 as espécies em risco na Costa Portuguesa.

“Estamos a pescar muito mais do que aquilo que deveríamos e isso é conhecido e as medidas que se tomam em relação à pesca estão aquém daquilo que deveriam ser, mas obviamente as alterações climáticas, o aquecimento global, a poluição – tudo isso vem agravar este problema”, descreve Núria Baylina.

A aquarista quer acreditar que as autoridades nacionais haverão de tomar as medidas necessárias antes que os vários Oceanários se tornem a derradeira alternativa para a reintrodução de espécies extintas, mas sublinha que a reintrodução de espécies tem de ser criteriosa e a aquacultura também acarreta desafios.

“Diria que a aquacultura, sim, terá que ser uma solução, mas não é qualquer aquacultura; não é de qualquer espécie; não é de qualquer maneira”, conclui.

Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos

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