Nasceu em agosto de 1984 em Lisboa, mas passou a infância na pequena aldeia algarvia de Paderne. “As memórias mais felizes da minha infância são na serra do Algarve, andávamos de bicicleta, tínhamos liberdade, íamos à Ribeira sozinhos, fazíamos piqueniques, fazíamos cabanas. Era era um sítio muito mágico desse ponto de vista e eu nem sabia que as pessoas podiam viver de outra forma”, conta.
Filha da fadista Teresa Siqueira, o fado está-lhe no sangue. O pai é engenheiro civil e deixou tudo para cumprir o sonho da mãe: abrir uma casa de fados em Lisboa. Aos 12 anos, Carminho, os irmãos e os pais mudaram-se para a capital.
Dos anos 80 para o podcast, Carminho trouxe uma fotografia, que costuma estar exposta na sala de casa, onde aparece sentada ao colo do pai, durante uma dessas noites em que o serão se passava a ouvir fado na serra algarvia.
“O fado é tão universal na minha família que nunca imaginei que pudesse ser uma profissão. Nunca imaginei que pudesse fazer vida disto”, assume.
O primeiro cachê que recebeu foi a piscina da Barbie e o primeiro palco a que subiu foi o do Coliseu dos Recreios. “Lembro-me que tinha os sapatos muito apertados e detestava a roupa que estava a usar". Cantou o “Embuçado”, de João Ferreira Rosa, e não lhe correu nada mal. “Disseram-me que era mais afinada do que muitos a ganhar cachê”, lembra a artista com um sorriso.
Ao lembrar a década em que nasceu, Carminho diz que “a geração de 80 é a geração com poucos canais na tv, pessoas reunidas e juntas à mesa e uma certa ideia de serão. Havia muito encontro familiar e isso hoje mudou”. Uma coisa que receia que se venha a perder é a existência de artesãos, que se dedicam apenas a uma só arte. “Há poucos especialistas hoje em dia. A cultura é saber um bocadinho de tudo, mas nada em particular. É o desenvolvimento da cultura geral, responder a perguntas genéricas, mas a ideia de artesão e de alguém que se dedique a apenas um gesto perdeu-se.”
É por isso que admira Cristiano Ronaldo, um dos melhores do mundo no futebol. "A determinação de Cristiano Ronaldo inspira-me. No fado também é assim: é permanecer, insistir e praticar, mesmo que implique algum sofrimento. A geração de 80 é uma geração de pessoas muito trabalhadoras e que, com pouco, sempre fizeram muito. Nós é que construíamos a nossa própria vida e isso dependia só da nossa determinação”.
Quando questionada sobre onde se imagina daqui a 40 anos, Carminho é rápida a responder: “Daqui a 40 anos vejo-me a cantar e a ter a minha casa de fados, a minha chafarica. Espero continuar apaixonada por aquilo que faço, seja lá o que for. Sou apaixonada por isto. Ficava aqui um dia inteiro a falar sobre fados e a cantar os mesmos fados que já cantei centenas de vezes. É um privilégio fazer o que se gosta e viver disso”.
Carminho é a nova convidada do Geração 80 de Francisco Pedro Balsemão. Uma conversa sobre o fado, o destino, a música e a cultura. Sobre a infância no Algarve, o impacto da fama e da vida pública, das ausências e dos receios de ser esquecida pelos que mais gosta.
Oiça a conversa na íntegra aqui, no segundo episódio de Geração 80.
Livres e sonhadores, os anos 80 em Portugal foram marcados pela consolidação da democracia e uma abertura ao mundo impulsionada pela adesão à CEE. Foram anos de grande criatividade, cujo impacto ainda hoje perdura. Apesar dos bigodes, dos chumaços e das permanentes, os anos 80 deram ao mundo a melhor colheita de sempre? Neste podcast, damos voz a uma série de portugueses nascidos nessa década brilhante, num regresso ao futuro guiado por Francisco Pedro Balsemão, nascido em 1980.