Nasceu no Porto em 1973. É filho de pais divorciados, a mãe era professora de Química e o pai Arquiteto. “Era um miúdo muito irrequieto”, que cantava “de manhã à noite” o hino “Prá Frente Portugal”.
Falar à mesa, em família, sobre política era muito comum e “nunca se questionou” o apoio a Freitas do Amaral. O 25 de Abril foi “duro” para a família e a avó “tremia” só de ouvir falar do Partido Comunista.
Estudou no Colégio dos Maristas, no Porto. A relação com Deus vem desde miúdo, mas nunca tinha pensado em ser padre. Começa a ir à Igreja na companhia de uma amiga, mas “rezava” para que a missa acabasse “depressa”.
Em adolescente, teve alguns “namoricos” e aos 20 anos até achou que tinha encontrado “a mulher da sua vida”. “Ela achou o contrário e disse-me que eu tinha vocação para ser padre”, conta.
Estávamos no final dos anos 90, estava a terminar o curso de Direito e era aluno de Azeredo Lopes, que o influenciou a estudar Direito Internacional. Ainda viveu na Holanda, onde começou o mestrado que ficou por concluir, porque percebeu que queria ser padre. “Tinha 25 anos, foi um grande choque para mim”.
“Lembro-me de me perguntar: ‘mas o que é que tu queres?’. E respondi a mim próprio: ‘Eu quero ser padre’. E fui a correr para casa em desespero”.
A reação da mãe, católica, não foi a esperada: “deixou de me falar durante dois anos”. O pai tinha uma posição muito crítica da Igreja, mas deu-lhe “todo o apoio”.
Não é um padre “comum”, porque os jesuítas são “diferentes”. Tem 5 licenciaturas, é doutorado e especialista em inteligência artificial em contexto de guerra e terrorismo.
Viveu 12 anos em Inglaterra e foi professor em Oxford. Hoje vive nos Estados Unidos e trabalha na Universidade de Saint Louis, no Missouri, onde celebra a missa todos os dias.
Não gosta de se ouvir e até compreende a maneira como a sociedade vê a figura do padre: “gordo, com caspa e cabelos brancos”.
“Não fala de política”, mas confessa que desde o processo que envolveu José Sócrates teve uma “reação violenta” contra Portugal e deixou de votar. “É a minha maneira de mostrar descontentamento”.
Afonso Seixas-Nunes, padre jesuíta, é o novo convidado do Geração 70. Nesta conversa com Bernardo Ferrão, fala sobre a evolução da Igreja - “mais descontraída, informada e participativa” - e como o “fraco investimento” na Educação em Portugal já ultrapassa fronteiras: “Os alunos portugueses já não são bem vistos”.
Como padre, não gosta de dizer o que pensa, mas partilha as conversas que teve com homossexuais. Fala sobre os abusos na Igreja Católica e revela ainda que se tivesse de colar um poster de um Papa na parede seria o do atual Santo Padre: “O Papa Francisco irrita-me porque me desafia enquanto padre”. Ouça aqui.