Fernando Alexandre assumiu como prioridade acabar com o "ruído" em torno da disciplina. Aproveitou a pausa letiva e o início das férias escolares para divulgar as novas aprendizagens e a estratégia para a área. A intenção já tinha sido anunciada há quase um ano por Luís Montenegro.
No entanto, nos documentos agora conhecidos, a palavra "sexualidade" foi retirada. Também referências à "saúde sexual e reprodutiva" deixaram de constar das linhas orientadoras. O tema, segundo o Ministério, passará a ser tratado conforme a sensibilidade e decisão dos professores.
Apesar disso, o ministro da Educação assegura que nada foi eliminado. Garante que tudo está agora "estruturado de forma diferente" e afirma que a educação sexual vai continuar a ser ensinada, dentro e fora da disciplina, até porque a lei assim o determina. Já a identidade de género foi deixada de fora por, segundo Fernando Alexandre, ser um tema "demasiado complexo" para integrar as aprendizagens essenciais.
As explicações do Governo não apaziguaram os receios. Diretores de escolas, professores, psicólogos, especialistas em saúde infantil e associações de pais consideram que as mudanças representam um retrocesso com impacto negativo no desenvolvimento de crianças e jovens. O principal receio é que, ao perder protagonismo na escola, o espaço da educação sexual seja ocupado pela internet, muitas vezes com os piores exemplos.
Os especialistas lembram que, num mundo cada vez mais digital e com redes sociais, os jovens enfrentam desafios novos, como os relacionamentos online e a desinformação sobre saúde sexual. A escola, dizem, deve ter um papel ativo e preventivo.
Até agora, os temas da educação sexual - incluindo identidade de género, métodos contracetivos e outras questões de saúde reprodutiva - têm sido abordados na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, muitas vezes com o apoio de profissionais de saúde convidados a esclarecer dúvidas nas escolas.
Entretanto, o debate volta a trazer à luz casos como o de uma família de Famalicão que sempre se opôs à disciplina. Proibiram dois filhos de frequentarem as aulas, mas ambos seguiram o percurso escolar com sucesso. Um já está no ensino superior, o outro passou para o 12.º ano.