O país esteve de luto nacional pelo trágico acidente do elevador da Glória que provocou pelo menos 16 mortos e 23 feridos. Recordamos a história de um dos elevadores mais icónicos da capital.
Quem visita a cidade de Lisboa tem paragem obrigatória na zona do Elevador da Glória. Seja para o admirar ou para fazer a ligação entre os Restauradores e o Bairro Alto, este é um dos ex-líbris da capital a que pouco turista ou lisboeta escapa.
Atualmente, é visitado por cerca de três milhões de pessoas por ano com viagens que começam às 7h00 e terminam à meia-noite a um preço de 4,10 euros por duas viagens ou grátis com o cartão Lisboa Card.
Inaugurado a 24 de outubro de 1885, o ascensor inicialmente movia-se com um sistema de locomoção por contrapeso de água, passando depois à locomoção a vapor e foi pioneiro da tração elétrica já em 1914. Hoje em dia mantém as características iniciais. Para os mais curiosos, dar conta de que até finais do século XIX, as viagens noturnas eram feitas à luz das velas dentro da cabine.
Este é "um dos três elevadores em Lisboa que tem mesmo de apanhar", segundo destaca o site do Turismo de Lisboa. De referir que estes três elevadores - o da Glória, Lavra e Bica (e ainda o funicular da Graça) - foram esta quarta-feira suspensos pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e ordenadas "vistorias técnicas a estes equipamentos" na sequência do descarrilamento.
Com capacidade para 42 passageiros, neste ascensor pode recuperar o fôlego de percorrer a chamada cidade das Sete Colinas e conhecer um dos miradouros mais famosos de Lisboa, o Miradouro de São Pedro de Alcântara.
Este é um dos mais usados da capital e, embora o seu trajeto seja curto (cerca de 275 metros percorridos em aproximadamente três minutos), é bastante útil para subir a íngreme Calçada da Glória. Chegou a ter dois pisos, com bancos longitudinais. No andar de baixo, os passageiros viajavam de costas para a rua e no andar de cima, podiam apreciar a vista virados para a rua.
Chegou a ser o único elevador de Lisboa onde era possível viajar num segundo piso, sendo o acesso feito através de uma escada de caracol e utilizando um banco corrido.
As suas raízes
Os elevadores e funiculares de Lisboa, em que se inclui o da Glória, tinham como objetivo resolver o problema de acessibilidade de Lisboa devido às suas íngremes colinas. Hoje permanecem ativos e estão classificados desde 2002 como Monumentos Nacionais.
Foi em 1882 que a autarquia aprovou uma licença de construção e exploração de elevadores e funiculares movidos a tração mecânica ao engenheiro portuense de origem francesa Raoul Mesnier Ponsard (1848-1914). Foi ele o responsável por todos os elevadores e funiculares de Lisboa, assim como projetos semelhantes em Braga, Porto, Nazaré e Funchal, nos Açores.
Entre os anos de 1913 e 1926 foi organizada uma prova de ciclismo, a Subida à Glória, que consistia numa subida em contrarrelógio de bicicleta a esta ladeira de 275 metros. A prova foi mais tarde recuperada, em 2013.
Já em 1926 a exploração do Elevador da Glória passou da Companhia de Ascensores Mechanicos de Lisboa para a Companhia de Carris de Ferro de Lisboa. Nessa altura foi construído, do lado da Praça dos Restauradores, um abrigo para os passageiros que hoje já não existe.
Inspirou música dos Rádio Macau
Em 1987, a famosa banda portuguesa Rádio Macau lançou um tema que viria a ser um dos seus maiores êxitos e foi inspirada precisamente neste ícone da cidade. A música carrega o mesmo nome do funicular: “O Elevador da Glória”.
A banda, recorde-se, juntou-se em Algueirão-Mem Martins, em Sintra, no início da década de 1980, tendo editado vários álbuns de sucesso ao longo de mais de duas décadas, incluindo “O Elevador da Glória” (1987).