Os polícias que investigaram os acontecimentos da polémica Assembleia Geral do FC Porto dizem que havia um clima de medo em que ninguém podia exprimir-se livremente. Os agentes foram ouvidos pelo tribunal durante o julgamento da Operação Pretoriano.
Foi batizada como Operação Pretoriano numa analogia à guarda responsável pela defesa pessoal dos imperadores romanos porque, explicou o líder da investigação, tinha como alvo indivíduos que protegiam a todo o custo um determinado regime e os proveitos financeiros que daí advinham.
Ouvido por videochamada, defendeu que na noite da Assembleia Geral dos "dragões", para silenciar vozes dissonantes, foi criado um clima em que imperava o medo e ninguém podia exprimir-se livremente. Revelou também que, coincidência ou não, recebeu, quando investigava o caso, mensagens que o levaram a pedir proteção policial. Ameaçaram-no, por exemplo, de que seria dissolvido em ácido.
Nenhum dos polícias ouvidos até agora tem dúvidas de que os vídeos captados na noite da reunião são uma prova forte que revela o clima de intimidação e terror criado pelos arguidos. Dizem os investigadores que as imagens de videovigilância mostram ainda que o próprio Fernando Madureira distribuiu cartões de sócio e pulseiras de acesso à reunião magna dos portistas.
A Operação Pretoriano foi, nas palavras do agente que a liderou, uma operação complexa feita em tempo recorde - 60 dias - numa luta contra o tempo para evitar uma escalada dos acontecimentos.
Julgamento arrancou na semana passada
Os 12 arguidos da Operação Pretoriano começaram, a 17 de março, a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.
Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.
Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.