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Crise do Amadora-Sintra: "Não é uma situação política, mas de gestão e liderança"

O comentador da SIC Tiago Correia analisa a demissão no serviço de urgência do Hospital Amadora-Sintra (Fernando da Fonseca) que "reflete problemas estruturais do SNS".

SIC Notícias

A recente demissão do diretor do serviço de Urgência do Hospital Amadora-Sintra reflete problemas estruturais do SNS. O comentador da SIC, Tiago Correia, alerta para a situação crítica da unidade hospitalar e a necessidade de medidas urgentes para colmatar a falta de médicos.

"A situação do Hospital Amadora-Sintra deve ser vista de uma forma muito particular. Obviamente, não se pode ignorar todos os constrangimentos e dificuldades do setor da saúde, sobretudo no funcionamento das urgências nas áreas metropolitanas, mas o caso do Amadora-Sintra é específico e potencialmente grave e alguma coisa tem de ser feita".

O comentador destaca que a unidade hospitalar deveria funcionar com seis médicos de cirurgia, mas atualmente conta apenas com três, sendo que apenas um é especialista e os outros dois são internos. "O rácio deveria ser de três especialistas para três internos. A atividade cirúrgica tem sido fortemente afetada, com consultas canceladas e cirurgias oncológicas suspensas. Este hospital serve cerca de 600 mil pessoas e está muito abaixo dos mínimos necessários".

Tiago Correia explica o contexto do conflito interno que levou às demissões. "Nos últimos dois anos, dois médicos denunciaram situações de má conduta cirúrgica no hospital. Foram realocados para Vila Franca de Xira, mas recentemente foram reintegrados no Amadora-Sintra. Isso levou à demissão de 10 a 11 especialistas de cirurgia".

No último fim de semana, havia apenas três médicos na urgência: um especialista e dois internos. A Ordem dos Médicos já alertou para o risco que esta situação representa para os utentes e exige a intervenção do Governo. No entanto Tiago Correia defende que o caso do Amadora-Sintra "não é uma situação política, mas sim de gestão e liderança".

"Esta crise convoca, acima de tudo, a direção clínica do hospital, o Conselho de Administração e, em última instância, o Diretor Executivo do SNS. Este caso demonstra exatamente porque precisamos de uma direção executiva forte no SNS. É um problema de conflito entre equipas, e não um problema político, pelo menos para já".

A dificuldade crónica em fixar profissionais

O problema da falta de médicos no SNS é recorrente, porque em Portugal "temos uma dificuldade crónica em fixar profissionais onde eles são necessários", salienta Tiago Correia que acredita que a solução passa por uma "diferenciação positiva".

"O Governo deve criar mecanismos para colocar profissionais nas especialidades e regiões que mais precisam. Tem havido majorações salariais e apoios familiares, mas não têm sido suficientes para fixar médicos, especialmente nas zonas rurais".

Na área metropolitana de Lisboa, há ainda dois fatores agravantes: "O custo de vida elevado e a forte presença do setor privado, que oferece condições mais atrativas para os profissionais".

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