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"O Governo quer provocar uma situação de crise política para ter eleições”

Na SIC Notícias, a antiga ministra e agora vice-presidente dos socialistas no Parlamento Europeu, comentou as decisões orçamentais do atual Governo, a situação na AIMA e a proposta do Chega para um referendo sobre a imigração, além das eleições nos EUA.

SIC Notícias

Ana Catarina Mendes afirma que o Governo quer provocar uma crise política para ter eleições. Na SIC Notícias, a eurodeputada do PS e vice-presidente dos socialistas no Parlamento Europeu acusou o Executivo de Luís Montenegro de estar apenas a levar a cabo “medidas eleitoralistas”.

“Estamos a assistir apenas e só a medidas eleitoralistas, num governo que - eu estou convicta (...) - quer eleições. Quer provocar uma situação de crise política para ter eleições”, declarou.

A antiga ministra considera que o Executivo “vai somando alegrias a alguma parte do eleitorado”, aproveitando-se da “almofada financeira que foi deixada pelo Governo do Partido Socialista”.

Questionada sobre se é difícil de digerir que os avanços agora anunciados pelo Governo PSD/CDS - junto dos pensionistas, dos professores e das forças de segurança, por exemplo - podiam ter sido feitos pelo anterior Executivo, a ex-governante traz o argumento da responsabilidade.

“Não estou a dizer que um professor deslocado que receba mais entre 70 a 300 euros não seja bom. Mas eu chamo a atenção para esta medida”, declarou Ana Catarina Mendes, acusando o Governo de “fragilidade, falta de critério e irresponsabilidade”.

"É o Governo que tem de garantir governabilidade"

Questionada sobre o facto de o PSD estar a deixar nas mãos do PS a viabilização do orçamento do Estado, Ana Catarina Mendes diz que tudo o que tem ouvido é um Governo “com indisponibilidade para dialogar” e que, apesar de estar em minoria no Parlamento, “ignora” os outros partidos.

“O governo tem a obrigação, quando se apresenta ao sr. Presidente da República a dizer que tinha condições de governabilidade, de apresentar aos portugueses as suas pontes para poder garantir estabilidade política aos portugueses”, frisou.

Para a atual eurodpeutada, é o governo que tem de “encontrar todas as pontes possíveis para construir uma solução que garanta que os portugueses não tenham que estar sistematicamente em eleições”. E não deixar sobre o PS a responsabilidade de aprovação de um documento que nem sequer conhece.

AIMA? "Teria feito tudo da mesma forma"

Ana Catarina Mendes foi também, nesta entrevista, questionada sobre a atual situação da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), que foi criada sob a sua tutela, aquando da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

A ex-ministra assegura que, se soubesse o que sabe hoje, “teria feito tudo da mesma forma, com a mesma convicção”, sublinhando que, durante o tempo que esteve no Executivo, não houve qualquer pré-aviso de greve na estrutura,

Ana Catarina Mendes recusa que o número de pendências seja hoje as mesmas 400 mil de há um ano, quando a estrutura acabara de ser criada.

Critica o Executivo, afirmando que grande parte das medidas anunciadas, desde que tomou posse, já estavam na pasta de transição, e mais uma vez, por ter dado a ideia de que ia resolver todos os problemas como que num “golpe de mágica”.

Ana Catarina Mendes vê com maus olhos decisões como o fim da manifestação de interesse – que considera não ter resolvido qualquer problema e só ter aumentado as filas e o desespero das pessoas.

Admite, contudo, que, desde a extinção do SEF, houve um “deixa-andar” dos processos e que o importante é limpar pendências até ao final deste ano, além de responder tecnologicamente de forma mais célere e encontrar respostas de integração.

Referendo à imigração: “Absurdo”

A propósito da questão da AIMA, Ana Catarina Mendes falou também sobre a imigração - e, particularmente, sobre a proposta de André Ventura para referendá-la.

O líder do Chega quer questionar os portugueses quanto a um eventual controlo anual da entrada de imigrantes anualmente e quanto à implementação de um programa de quotas imigração. Uma ideia que, para a atual eurodeputada, “é um total absurdo”.

A vice-presidente dos socialistas no Parlamento Europeu considera que as questões em causa não são referendáveis e que Ventura pretende apenas “levantar fantasmas” e “suscitar medos”.

“É uma tentativa de André Ventura de acompanhar a pior agenda da extrema-direita ao nível europeu e ao nível mundial”, criticou.

Ana Catarina Mendes desmonta a ideia de que os cidadãos estrangeiros recebam demasiados subsídios. “Isto é uma falácia. Em 2023, a contribuição dos trabalhadores migrantes em Portugal para a segurança social foi de 1,8 milhões de euros. A despesa com prestações sociais foi de cerca de 200 mil euros", notou.

“Um dos erros e dos perigos nas nossas democracias é nós olharmos para os nichos.Nós temos de olhar para o Estado social como um Estado forte, capaz de dar resposta em todas as frentes, a todas as pessoas, sejam cidadãos, estrangeiros, sejam cidadãos migrantes.”

EUA: "Não é a mesma coisa ter Trump ou Kamala"

Finalmente, Ana Catarina Mendes mostrou-se preocupada com o desfecho das eleições norte-americanas, que acontecem em novembro.

A eurodeputada socialista defende que “a Europa se deve preparar, garantindo a sua autonomia estratégica” e sublinha que “não é a mesma coisa ter Trump ou ter Kamala Harris”.

A vice-presidente dos socialistas no Parlamento Europeu lembra que é preciso encontrar soluções de paz para as guerras na Ucrânia e em Gaza e espera, por isso, uma vitória do Partido Democrata na Casa Branca.

“Espero que os democratas possam ganhar, porque isso é bom, não apenas para a Europa, é bom para a América, é bom para o mundo.”

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