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Caso das gémeas: "Não há dúvidas que houve cunha", mas há uma "amnésia" por resolver

O caso das gémeas tratadas com um dos medicamentos mais caros do mundo no Santa Maria arrasta-se há mais de um mês. Bernardo Ferrão e Paulo Baldaia concordam que o PS "só quer ouvir quem convém" e que o processo "está a demorar demasiado tempo".

Bernardo Ferrão

Paulo Baldaia

Daniel Pascoal

Falta pouco mais de um mês para o Parlamento ser dissolvido e há mais um caso polémico para resolver. Depois da auditoria interna do Hospital de Santa Maria, no caso das gémeas luso-brasileiras que receberam um tratamento milionário, o que fica por esclarecer?

Primeiramente, foi confirmado que as duas primeiras consultas foram marcadas através de um telefonema da secretaria de Estado da Saúde. A auditoria, que não apura responsabilidades disciplinares ou criminais, seguiu já para a tutela. No entanto, o caso já perdura há um mês e nem tudo está em pratos limpos.

Bernardo Ferrão, diretor adjunto da SIC, diz que “já não há dúvidas que houve uma cunha”, mas que existe uma “amnésia" por resolver: é preciso saber “se foi Lacerda Sales ou se foi alguém por ele” a pedir a consulta no Hospital Santa Maria.

O antigo secretário de Estado da Saúde diz que não foi ele e lamenta as “suposições” que têm sido lançadas, mas afirma que só se vai pronunciar “com exatidão” depois "de analisar o relatório e de ter acesso a toda a documentação”.

PS pede ”audições de conveniência"

Paulo Baldaia, comentador da SIC, considera que o “epicentro” do caso passou para o Governo e para o anterior Ministério da Saúde.

“Isto rapidamente saiu de Belém. O epicentro é claramente no Governo, no anterior Ministério da Saúde, com Marta Temido e Lacerda Sales. O PS está com problemas, não pensou que a bomba ia arrebentar nas suas mãos. (…) Se tivéssemos acesso a todos os documentos e pessoas que intervieram, numa semana descobríamos tudo o que se passou. Está a demorar demasiado tempo”, afirma Paulo Baldaia.

O comentador e Bernardo Ferrão alegam que o processo tem se arrastado também por culpa do Partido Socialista, que na semana passada recusou as audições a Temido e Lacerda Sales, mas chamou o atual ministro da Saúde, Manuel Pizarro, para ser ouvido.

“São as chamadas audições de conveniência. Só querem ouvir quem convém, quem não tem nada para dizer”, analisa Bernardo Ferrão.

Paulo Baldaia considera que falta Lacerda Sales “explicar se reuniu com o filho do Presidente da República e, se sim, o que lhe pediu em concreto”. “Tem de se perguntar a Nuno Rebelo de Sousa e Lacerda Sales o que aconteceu na conversa”.

O “erro capital” de Marcelo

“A única questão que envolve Marcelo Rebelo de Sousa foi o facto de ter recebido aquilo e não ter percebido que não devia ter dado andamento no processo, que ainda por mais veio do filho. É o erro capital de Marcelo”, atira Bernardo Ferrão. "Foi imprudente, caso contrário não estávamos há um mês a discutir este caso. mas a cunha não foi dele", considera Paulo Baldaia.

Gémeas foram tratadas com um dos medicamentos mais caros do mundo

Em causa está o processo segundo o qual duas gémeas luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma, - um dos mais caros do mundo - para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.

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