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Gémeas luso-brasileiras: médico no Brasil apoiou a toma da medicação (ao contrário dos médicos em Portugal)

Os neuropediatras do Santa Maria contestaram a administração do tratamento milionário, mas, em entrevista à SIC, médico que acompanhou o caso no Brasil garante a importância da toma do medicamento em Portugal.

Pedro Freitas

Ivani Flora

Tiago Martins

A Ordem dos Médicos abriu um processo disciplinar a Larceda Sales e aos outros médicos envolvidos no caso do tratamento das gémeas luso-brasileiras no Hospital de Santa Maria. O especialista que acompanhou as crianças no Brasil falou pela primeira vez do caso. Em entrevista à SIC garante a importância do tratamento milionário em Portugal, apesar da opinião contrária de alguns dos clínicos do Santa Maria.

São já quatro os processos em investigação à toma da medicação pelas gémeas luso-brasileiras.

Depois da auditoria interna no Hospital de Santa Maria, dos inquéritos no Ministério Público (MP) e na Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), esta terça-feira foi a Ordem dos Médicos que abriu um inquérito ao Lacerda Sales e aos médicos envolvidos no caso.

“Vamos tentar perceber se a atuação médica foi ou não adequada, foi ou não correta”, afirma o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes

O objetivo deste inquérito é apurar eventuais comportamentos inadequados do antigo secretário de estado da Saúde Lacerda Sales, e também do então diretor clínico hospitalar Luís Pinheiro e dos outros clínicos de Santa Maria durante todo o processo.

"Nós aqui, um conjunto de médicos em vários níveis de decisão, nomeadamente a decisão clínica, a decisão na administração do hospital e mais acima também governantes que são médicos", acrescenta.

Segundo alguns documentos, terá sido Lacerda Sales quem pediu a consulta com vista ao tratamento, após a justiça brasileira ter-se negado a dar seguimento ao caso.

Contestação médica em Portugal

Há três anos os neuropediatras do Santa Maria contestaram por escrito a administração do medicamento milionário, apesar do parecer positivo do então diretor clínico do Hospital de Santa Maria.

Os especialistas entendiam que o Zolgensma não acrescentava nada, em termos de eficácia, relativamente ao tratamento que as crianças de um ano já estavam a fazer no hospital de São Paulo no Brasil.

Médico no Brasil apoiava a toma

O médico que acompanhou o caso no Brasil garante, em entrevista à SIC, a importância da toma do medicamento em Portugal antes das gémeas completarem os dois anos de idade.

“Elas estavam numa condição clínica e preenchiam os critérios de idade, e até de peso, pois existe esse tipo de critério para receber a medicação”, disse o neuropediatra, Ciro Matsui.

O especialista brasileiro em atrofia muscular espinhal (AME) assegura que o tratamento de uso contínuo feito no Brasil em 2019 não interfere no medicamento administrado pelo Santa Maria em 2020, numa só dose.

“Não, porque são medicamentos diferentes. De maneira leiga, podemos dizer que as medicações de uso contínuo vão restabelecer a produção de proteína que falta no doente com AME, que é uma proteína importante para que o neurónio se mantenha vivo. Só que elas em tese elas não corrigem o defeito genético. A medicação terapiogénica dizemos que ela corrige o defeito genético”, explica o clínico.

Esta medicação corrige e interrompe a progressão da doença rara degenerativa, mas não cura.

Não há cura para Maitê e Lorena, mas as crianças, agora com cinco anos, apresentarão melhorias clínicas consideráveis, desde que tomaram o medicamento.

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