Bruno Costa, cientista político, analisa a conversa entre o Presidente da República e o primeiro-ministro demissionário, o papel mais ativo de Marcelo e, também, a jogada política inerente ao fim do agravamento do IUC.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa encontraram-se esta terça-feira em Belém, onde era esperado sair um nome certo ou uma solução para a substituição de João Galamba na pasta das infraestruturas. Mas não foi esse o caso.
"Aqui a grande questão é saber os trâmites temporais relativamente a um conjunto de procedimentos determinantes, como a TAP e a ferrovia, a inexistência de um ministro coloca em causa estes processos e a sua evolução, será difícil para António Costa apresentar um nome, em que alguém assume um cargo que terminará dentro de quatro e cinco meses, a conversa direcionou para essa questão automaticamente", explica Bruno Costa.
Neste sentido, o Presidente da República acabará por ter um papel mais ativo e importante, assim que o Governo entrar em gestão - no início de dezembro - para que não perca o seu principal objetivo: não prejudicar os portugueses.
“Haverá um controlo maior, os partidos da oposições já disseram que terão atenção redobrada relativamente a tudo o que for aprovado pelo Governo e, aqui, Marcelo acaba por ter um papel de árbitro, moderador mais ativo para, de certo, modo acomodar decisões que são vitais para economia nacional e verificar que não se paralisa as instituições, não se entra em 2024 sem orçamento e que se utiliza fundos comunitários”, descreve o cientista político.
Por último, numa notícia que marca o dia, Bruno Costa considera que a “inversão de marcha” do Partido Socialista relativamente ao aumento do IUC - tendo agora proposto o fim do agravamento - é para conquistar, de novo, a consideração pública ou para, pelo menos, não perder mais consideração.
"Há uma expressão portuguesa: Rei morto, Rei posto. A lealdade relativamente a este Governo dos deputados do PS está condicionada ou limitada e o principal objetivo passa a ser a luta e campanha eleitoral para março de 2024, e sabendo o PS a reação que houve a esta medida, da sociedade civil, obviamente que o PS olha e percebe que estra seria nociva e ia condicionar o apoio eleitoral de uma classe média baixa", conclui.
IUC não aumenta
O PS apresentou uma proposta para eliminar o aumento do IUC para veículos anteriores a 2007 do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), defendendo que é "uma questão de justiça social e proteção dos cidadãos com maior vulnerabilidade económica".
Na proposta de alteração apresentada pelo grupo parlamentar socialista, é defendido que "o veículo ligeiro é em muitos casos ainda a principal forma de deslocação para o trabalho ou para deslocação até ao meio de transporte público mais próximo, principalmente fora das principais cidades do país e em zonas de média e baixa densidade, onde a oferta de transportes públicos é reduzida e desadequada às necessidades diárias de mobilidade".