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Investigadora portuguesa vai liderar grupo de trabalho da Agência Espacial Europeia

Zita Martins é a primeira astrobióloga portuguesa e uma das mais reconhecidas do mundo. Procura respostas para dois dos maiores enigmas da humanidade: a origem da vida na Terra e a existência de vida extraterrestre.

Rogério Esteves

Miriam Alves

A investigadora que decidiu "pôr Portugal no mapa da astrobiologia" vai liderar um grupo de trabalho da Agência Espacial Europeia. Zita Martins presidirá o órgão de aconselhamento sobre a ciência e a exploração do Sistema Solar a partir de 2024.

Zita Martins é a primeira astrobióloga portuguesa e uma das mais reconhecidas do mundo. A professora do Instituto Superior Técnico e investigadora do Centro de Química Estrutural vai presidir o grupo de trabalho da Agência Espacial Europeia que dá aconselhamento sobre a ciência e a exploração do Sistema Solar, o Solar System Exploration Working Group (SSEWG).

É o primeiro nome português a liderar um grupo de trabalho da Agência Espacial Europeia. Será presidente do SSEWG durante três anos. No mesmo período, integrará também o Space Science Advisory Committee (SSAC).

"Nestes grupos de trabalho vai-se discutir o futuro das ciências planetárias e das ciências no nosso sistema solar", resume Zita Martins. "É uma honra enorme para mim, por ver o meu trabalho reconhecido, e é ótimo para o Técnico e para Portugal".

Zita Martins é investigadora em várias missões espaciais. Procura respostas para dois dos maiores enigmas da humanidade: a origem da vida na Terra e a existência de vida extraterrestre. A sua investigação incide sobretudo na presença de compostos orgânicos em meteoritos e cometas: uma das chaves para entender a origem da vida na Terra. "Eu tento perceber que moléculas orgânicas estão presentes em meteoritos e qual foi o papel dos meteoritos e dos cometas para a origem da vida aqui na Terra. E tento desenvolver métodos que nos permitam detetar vida extraterrestre. Se ela existir, claro".

Durante o doutoramento, enquanto cientista convidada da NASA, a investigadora portuguesa resolveu um dilema que a comunidade científica tentava desvendar há mais de 40 anos. “Tinham sido detetados em meteoritos compostos que fazem parte do nosso material genético. Mas a comunidade científica não sabia se esses compostos eram terrestres - contaminação das nossas mãos - ou se eram extraterrestres, formados fora da Terra. E o que eu fiz durante o meu doutoramento foi descobrir que essas bases nitrogenadas que estão presentes em meteoritos são, de facto, formadas fora da Terra, já existiam ainda antes da vida ter surgido aqui no planeta Terra, e foram trazidas por meteoritos para o nosso planeta.”

A Agência Espacial Europeia conta atualmente com grupos de trabalho que discutem temas como futuras missões de exploração a luas geladas. Europa - lua de Júpiter -, Encélado e Titã - luas de Saturno - são algumas das hipóteses. Para Zita Martins "seria uma alegria enorme" ver algumas dessas missões lançadas nos próximos vinte anos.

Zita Martins é doutorada em Astrobiologia pela Universidade de Leiden, Países Baixos. Em mais de 20 anos de carreira científica, participou em vários projetos internacionais de investigação, incluindo missões da Agência Espacial Europeia, da norte-americana NASA e da japonesa JAXA. Foi Royal Society University Research Fellow no Imperial College, no Reino Unido, até 2017.

Em 2015 foi nomeada Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada por "méritos excecionais na ciência". É, desde 2021, Consultora do Presidente da República para a área de Ciência, Inovação e Transição Digital.

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