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Faltarão 34.500 professores ao sistema de ensino em 2030

Apesar de Portugal estar cada vez mais próximo das médicas da OCDE, a desigualdade continua a marcar o sistema de ensino português, seja no acesso ou nos resultados.

SIC Notícias

Em 2030, o sistema de ensino em Portugal poderá ter menos 34.500 professores do que os necessários para o país, segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Em 50 anos de democracia, Portugal melhorou todos os indicadores e aproximou-se das médias da OCDE. Praticamente 90% das crianças entre os três e os cinco anos frequentam o ensino pré-escolar, a mesma percentagem de alunos que termina o ensino secundário e desses são já quase 50% os que seguem para o ensino superior.

Ainda assim, a desigualdade continua a marcar o sistema de ensino português, seja no acesso ou nos resultados.

Condições económicas com grande peso nas notas

Em 2021, Portugal continuava a ser um país onde 48% da população adulta não tinha sequer o ensino secundário completo e isso, mas também as origens sociais e económicas dos alunos tem impacto nos resultados escolares.

Dados de 2018, mostram que, por exemplo, os alunos em que a mãe não tem ensino superior nos 4º, 6º e 9º ano revelam mais tendência a ter notas negativas na disciplina de português. Um cenário que se repete sem surpresa na disciplina de matemática onde a tendência piora do 4º até ao 9º ano, ou seja, com o avançar do percurso escolar.

O mesmo se verifica nos alunos com e sem apoio social escolar. Do 4º ao 9º ano, na disciplina de português há mais notas negativas entre os que têm o apoio. Na matemática o cenário repete-se e também aqui há um agravamento do 4º até ao 9º ano desta tendência.

O ambiente social que também pode ter impacto nas escolhas que os alunos fazem quando chegam ao ensino secundário ou na hora de decidir se vão ou não continuar para o ensino superior.

Também na carreira dos professores estes fatores têm peso, até porque Portugal continua a ser um país de desigualdades nos grandes centros urbanos,
entre litoral e interior, mas também entre o norte e o sul.

“Neste momento, o sistema de ensino é totalmente rígido e incapaz de se adaptar à enorme diversidade”, acusou o investigador do Centro de economia da educação da Nova SBE, Pedro Freitas.

Em 2021, a média de idades dos docentes portugueses estava nos 50 anos e no ano letivo de 2030/2031 a previsão é que faltem 34.500 professores
ao sistema de ensino português tendência que, na opinião do investigador Pedro Freitas só será alterada caso se repense a carreira dos professores.

"Se nós olharmos, hoje, para o sistema de ensino qual o incentivo para um professor lecionar uma escola mais difícil, com alunos que têm maiores necessidades de aprendizagem?", pergunta o investigador, respondendo, de imediato: "Nenhum!”.

Além disso, a mobilidade, as dificuldades de alojamento ou os salários podem tornar-se um problema na hora de decidir onde ficar ou para onde concorrer
como docente, num país onde a contestação dentro da classe continua mais presente que nunca.

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