Ricardo Costa e José Gomes Ferreira analisaram esta quarta-feira a atualidade política, o confronto entre o Palácio de Belém e de São Bento, após António Costa ter anunciado esta terça-feira que recusou a demissão do ministro das Infraestruturas, e as suas consequências.
Está aberta uma guerra entre palácios, a cordialidade institucional deixou de existir, mas para Ricardo Costa não existe ainda noção de quais serão as consequências após o primeiro-ministro ter recusado a demissão de João Galamba, algo que o Presidente da República esperava que acontecesse.
"As consequências não se percebem, o que se percebe é que houve um momento de clarificação. Até ontem, o Presidente tinha um poder de influência sobre a composição do Governo. Neste momento, o Presidente da República disse que João Galamba não tinha condições para ficar e ele ficou. Portanto, o Presidente deixa de ter essa capacidade de interferência no Executivo", comentou Ricardo Costa.
Para Ricardo Costa esta situação apresenta um problema para o Presidente, dado que "deixa de poder dizer a palavra dissolução", tendo em conta que a próxima vez que a usar, terá de ser para a "executar".
"Para mim não é nada claro que haja eleições antecipadas, pelo menos este ano até às próximas eleições europeias e, até mesmo depois disso, eu tenho as minhas dúvidas", realçou.
Para José Gomes Ferreira, a recusa de demissão do Galamba fez com que se iniciasse um "braço de ferro" entre Costa e Marcelo e que, se este Governo quiser continuar sem estar fragilizado, tem de apresentar uma remodelação.
“É um tacticismo político para dizer “eu é que mando na formação do Governo” e arrisca-se a perder a grande guerra estratégica que está aberta com o Presidente da República. Um governante nestas condições fica fragilizado, todo o Governo fica”, referiu.
José Gomes Ferreira questiona: “Qual será uma maneira do primeiro ministro se quiser continuar diminuir a pressão da guerra com o PR e dar uma imagem diferente aos portugueses?”. Para o próprio, a solução passa por "apresentar uma remodelação do Governo à entrada do verão ou depois".
Esta terça-feira, o primeiro-ministro reuniu-se com João Galamba, ministro das Infraestruturas envolvido em várias polémicas após revelações sobre reuniões prévias à comissão parlamentar de inquérito com a CEO da TAP e, também, alegada ocultação de documentos.
Após essa reunião, António Costa dirigiu-se a Belém para conversar com o Presidente da República que já tinha afirmado que Galamba não deveria ficar em funções. Na noite de terça-feira, o primeiro-ministro comunicou ao país que não aceitou a demissão entregue por João Galamba.