Na cerimónia de boas-vindas na Assembleia da República, o Presidente do Brasil, Lula da Silva, diz sentir-se "em casa" em Portugal e considera que o 25 de Abril foi um "salto para o futuro". Já Augusto Santos Silva, Presidente da Assembleia da República, salienta que Lula reduziu as desigualdades sociais no Brasil. O discurso do chefe de Estado brasileiro ficou marcado por protestos dos deputados do Chega, que mereceram uma repreensão de Santos Silva.
Lula da Silva chegou ao Palácio de São Bento com quase 10 minutos de atraso, já depois da chegada do primeiro-ministro, António Costa, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Foi recebido com honras militares. Nas escadarias exteriores foram ouvidos os hinos nacionais do Brasil e de Portugal. Foi depois tirada a fotografia oficial “de família” e assinado o Livro de Honra, nos Passos Perdidos.
O passado e o presente do Brasil
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, caracteriza o chefe de Estado do Brasil como um líder político e um estadista que venceu eleições livres, reduziu as desigualdades sociais e soube defender as instituições democráticas.
Na Assembleia, agradece os gestos “fraternos” de Lula da Silva, ao integrar Portugal nos “primeiros contactos” após a eleição como Presidente do Brasil, por retomar as cimeiras e por ter respondido “prontamente” ao convite para a deslocação a Portugal.
“Sabemos a amizade que dedica a Portugal. Consigo Brasília volta a abrir-se ao mundo porque em si reconhecemos o líder político cujas políticas sociais contribuíram para a redução da pobreza e desigualdades no Brasil. Em si reconhecemos o estadista que se apresentou e venceu eleições livres e que, depois, quando alguns tentaram invadir e derrubar as instituições democráticas brasileiras, soube defendê-las sem qualquer hesitação", afirma Augusto Santos Silva.
As afirmações foram aplaudidas pelos deputados da esquerda parlamentar, mas não pelas bancadas do PSD e do Chega.
Após uma referência ao Prémio Camões, entregue a Chico Buarque, Santos Silva destaca o “comum alinhamento” dos “dois países irmãos pela história e pela liberdade democrática" em torno da liberdade, da democracia, da separação de poderes, do desenvolvimento inclusivo e igualdade.
Augusto Santos Silva salienta ainda que, do ponto de vista diplomático, "a personalidade que os brasileiros escolhem como Presidente é sempre bem-vinda ao parlamento português".
Guerra na Ucrânia
O presidente da Assembleia da República pede “mais negociações” e menos guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
“É muito útil que seja tema de diálogo permanente entre Portugal e o Brasil e que, prosseguindo Portugal e o Brasil as próprias políticas externas, elas possam convergir em função da paz. A Europa necessita do Brasil e o Brasil conta com o apoio do Parlamento português no reforço dos laços políticos, económicos e sociais com a União Europeia”.
Discurso de Lula com protesto do Chega e repreensão de Santos Silva
O Presidente do Brasil diz sentir-se em casa em Portugal e que foi com “muita alegria” que recebeu o convite do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para a deslocação a Portugal.
“Nos últimos dias tive aqui em Portugal a inconfundível sensação de estar em casa, sentimento que acredito que é compartilhado por todos os brasileiros que vivem em Portugal e todos os portugueses no Brasil”.
Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva discursa na Assembleia, deputados do Chega, em protesto - por vezes ruidoso -, levantam cartazes com bandeiras ucranianas e outros que dizem “Chega de corrupção” e “Lugar de ladrão é na prisão”.
Após o protesto dos deputados do Chega, o presidente da Assembleia da República repreende os deputados do partido de extrema-direita:
"Os senhores deputados que se querem permanecer na sessão plenária devem comportar-se com urbanidade, cortesia e a educação que é exigida a qualquer representantes do povo de português, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal".
Já Lula da Silva prossegue o seu discurso:
“O 25 de Abril permitiu que Portugal desse o verdadeiro salto para o futuro. O movimento iniciado pelos Capitães de Abril, há exatos 49 anos, reconquistou as liberdades civis, a participação política dos cidadãos, a democratização política, os direitos dos trabalhistas e a livre organização sindical, criando as bases para o desenvolvimento económico com justiça social (…). Do outro lado do Atlântico, nós brasileiros, assistimos com admiração e esperança à Revolução dos Cravos ”.
Enquanto o Chega manteve os protestos, alguns deputados à esquerda fizeram, por várias vezes, um “L” com as mãos, em gesto de apoio a Lula da Silva.
No discurso na Assembleia da República, o Presidente brasileiro refere os “extremismos” no mundo nas últimas décadas e critica o negacionismo na pandemia.
Lula da Silva voltou a condenar a violação do território da Ucrânia. No discurso na Assembleia da República, o Presidente brasileiro apelou à paz e ao diálogo.
Augusto Santos Silva pediu desculpa a Lula da Silva, em nome do Parlamento, pelos protestos dos deputados do partido liderado por André Ventura. E agradeceu-lhe a “coragem e educação”.
Na sala, ouviram-se gritos “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”, e o presidente do Parlamento recebeu palmas de pé da maioria dos deputados do hemiciclo, do ex-presidente do parlamento Ferro Rodrigues e de alguns convidados como o ex-candidato presidencial Sampaio da Nóvoa, o presidente do PS, Carlos César, e o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo.
Lula da Silva diz que protesto do Chega foi uma "cena de ridículo"
O Presidente brasileiro, Lula da Silva, desvalorizou o protesto do Chega durante o seu discurso no Parlamento, considerando que as "pessoas quando não têm uma coisa boa para aparecer" fazem "essa cena de ridículo", um "papelão".
"Quem faz política está habituado a isso. Eu acho que essas pessoas quando voltarem para casa e deitarem a cabeça no travesseiro vão falar: que papelão nós fizemos", disse Lula da Silva aos jornalistas, à saída da sala das sessões da Assembleia da República.
O chefe de Estado brasileiro disse que não viu um incidente, mas apenas "10 pessoas ou meia dúzia de pessoas protestarem, o que é a coisa mais natural na democracia".
"Eu às vezes lamento porque as pessoas quando não têm uma coisa boa para fazer, para aparecer, as pessoas fazem essa cena de ridículo. Eu sinceramente não sei como é que estas pessoas vão chegar em casa, olhar nos seus filhos, nos seus pais e falar que estiveram na assembleia a participar num evento praticamente de homenagem à Revolução dos Cravos, porque foi para isso que eu vim aqui a convite do Presidente Rebelo", afirmou.
Marcelo faz balanço "muito bom" de visita
O Presidente da República fez esta terça-feira um balanço "muito bom" da visita do chefe de Estado do Brasil a Portugal, considerando que permitiu "afinar divergências" e foi benéfica para os dois países.
Em declarações à RTP enquanto descia a Calçada da Estrela, a caminho da Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado sobre o balanço que faz da visita de Estado de Luiz Inácio Lula da Silva a Portugal, que termina esta terça-feira.
"Muito bom, muito, muito bom. Muito bem do ponto de vista humano político, empresarial, que era muito importante, e até do ponto de vista de afinar divergências que existem, mas afiná-las num sentido político externo. Muito bom para os dois países", respondeu .
Manifestações a favor e contra a receção de Lula
Há várias manifestações junto às escadarias do Palácio de São Bento a favor e contra a receção de Lula da Silva.
Uma delas foi convocada pelo Chega, que demonstrou nas últimas semanas ser contra a presença do Presidente do Brasil. O partido apela à mobilização contra a corrupção e a um protesto pacífico.
Por outro lado, o Núcleo Português do Partido dos Trabalhadores manifesta-se em apoio ao Presidente brasileiro.
Foi reforçado o dispositivo policial e o trânsito vai estar condicionado em várias zonas da capital.
Lula viaja para Espanha
Depois de terminar a visita oficial a Portugal, Lula da Silva começa a visita a Espanha.
O acordo União Europeia-Mercosul é um dos principais assuntos na agenda, quando os dois países se preparam para assumir as presidências das duas organizações.
As negociações do acordo terminaram há quatro anos, mas não houve ainda uma assinatura ou ratificação. Está agora a ser negociado um protocolo adicional.
Espanha e Brasil querem reforçar a relação cada vez mais estratégica entre a Europa e a América Latina.
Na quarta-feira, Lula da Silva reúne-se com o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, antes de ser recebido pelo Rei Felipe VI.