Os partidos discursaram na sessão solene do 25 de Abril. A Esquerda alertou para as ameaças à democracia pelo extremismo e a Direita criticou a presença de Lula da Silva no Parlamento e a “inação” do Governo.
Durante mais de uma hora e já sem Lula da Silva no Parlamento, os partidos com assento parlamentar discursaram na sessão solene com as diferenças bem vincadas.
O deputado único do Livre avisou que o principal risco para a democracia "não está nos autoritários", mas "naqueles que lhes derem a mão", e que uns e outros ficarão "manchados na história" do país.
"O principal risco para a democracia não está nos autoritários, que serão sempre uma minoria, mas naqueles que lhes quiserem dar a mão. O que é preciso é que todos aqui dentro saibamos é que uns e outros - autoritários e os que lhes derem a mão - ficarão manchados na história do nosso país e perderão o respeito do povo", defendeu Rui Tavares.
A deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, considerou que, 49 anos depois da revolução que pôs fim à ditadura, Portugal "é ainda um país com subalimentados do sonho" e das "liberdades que Abril almejou".
"A pandemia e a guerra empurraram ainda mais pessoas para a vulnerabilidade e para um custo de vista incomportável e em que as famílias continuam a não conseguir quebrar o ciclo da pobreza, a passar frio nas suas próprias casas, em que falhámos no objetivo de erradicar as barracas, ou continuamos a não ter um parque habitacional condigno e público, continuamos a ter subalimentados do sonho", afirmou.
O BE considerou que "o maior perigo das celebrações de Abril é que se transformem em cerimónias fúnebres" e defendeu que um "Governo que se esconde na vitimização" não cuida da semente da revolução, recusando afogá-la "em formol".
"Um governo que se esconde na vitimização com a pandemia ou a guerra, que se transforma numa agência de publicidade e 'powerpoints' em que já ninguém acredita, por muitos cravos que espete ao peito, não cuida da semente de Abril", acusou Catarina Martins na última sessão solene comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República como líder do BE.
O PCP alertou que a "democracia está sob a ameaça" do fascismo e da falta de concretização de direitos e considerou que o Governo não pode celebrar o 25 de Abril enquanto deixa "degradar as condições de vida".
O deputado do PCP, Manuel Loff, considerou que, da Revolução dos Cravos, "saiu uma das mais arrojadas democracias do mundo".
"Praticamente meio século depois do 25 de Abril e das melhores esperanças que nele depositaram milhões de portugueses, milhões de democratas por todo o mundo que sentiram a nossa Revolução como sua, a democracia está sob ameaça", alertou Manuel Loff na sessão.
O secretário-geral adjunto do PS salientou que a democracia requer estabilidade e respeito pelos mandatos que o povo confere, num discurso em que manifestou preocupação com a "influência" que o populismo exerce na direita democrática.
O líder parlamentar do PSD afirmou que em Portugal o empobrecimento se junta à "forte degradação da vida política e da qualidade das instituições", gerando um aumento dos populismos, "quer de extrema-direita, quer de extrema-esquerda".
Joaquim Miranda Sarmento apontou que "há 25 anos que não há um desígnio nacional" e apontou, sem desenvolver, o tema da TAP como um exemplo de "descrédito das instituições".
"A quebra da qualidade dos políticos, a descredibilização da política, a perda da autoridade e do prestígio das instituições e do Estado, bem como os fenómenos da corrupção, do compadrio e do nepotismo minam a confiança dos cidadãos na democracia", considerou, acrescentando a estes problemas "o descrédito da Justiça, com a morosidade e a impunidade em casos de corrupção que atingem poderosos".
O líder da IL criticou o "longo ciclo de decadência socialista que condena os portugueses a empobrecer ou a emigrar", defendendo que "em democracia há sempre alternativa e o vento da mudança já começou a soprar em Portugal".
"Se hoje Portugal se apresenta mais anoitecido do que queríamos, mais triste do que merecíamos, mais estreito do que sonhávamos, é porque alguém que não fez o suficiente", criticou Rui Rocha na primeira intervenção como presidente da IL na sessão solene comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República.
O Chega apostou nas desigualdades sociais e na ida de Lula da Silva ao Parlamento sublinhando que o discurso do Presidente do Brasil foi um "erro".