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Marta Temido revela um dos momentos "mais terríveis" da pandemia

Numa entrevista exclusiva à SIC, Marta Temido falou também sobre o dia em que apresentou a demissão, horas depois de uma mulher que tinha dado à luz ter morrido à porta do hospital São Francisco Xavier.

Dulce Salzedas

SIC Notícias

Era dia 26 de janeiro de 2021, cerca das 19 horas, quando as sirenas começaram a ecoar pelas ruas de Lisboa. O elevado número de doentes internados devido à covid-19 pressionou de tal forma as tubagens da rede de oxigénio que deixaram de ser capazes de responder aos 43 doentes ventilados.

Marta Temido estava no Ministério da Saúde a ouvir as ambulâncias a passar no momento em que houve cortes na rede de oxigénio em vários hospitais.

“Tivemos no hospital Fernando da Fonseca o alarme. Com a experiência do Amadora-Sintra os outros hospitais conseguiram fazer algumas adaptações. Esses momentos foram os momentos mais terríveis, também os momentos mais solitários”, disse.

A então ministra da Saúde passou praticamente toda a noite no gabinete com os colaboradores mais próximos e a falar ao telemóvel com responsáveis pelos Conselhos de Administração de vários hospitais e unidades de saúde privadas.

Na entrevista à SIC, Marta Temido revela que pediu ajuda aos setores privado e social e que estes foram "absolutamente essenciais" na resposta à pandemia de covid-19. Diz mesmo que estes setores foram "mais solidários com o Serviço Nacional de Saúde do que as próprias entidades" do SNS.

“Foi a gota de água"

A pandemia chegou a Portugal a 2 de março de 2020 quando o Instituto Ricardo Jorge confirmou a infeção de dois doentes. Marta Temido já era ministra há dois anos. Bateu com a porta no final de agosto de 2022, dias depois da morte de uma mulher que tinha dado à luz no hospital Santa Maria e que acabou por morrer à chegada do São Francisco Xavier após ter sido transferida por falta de cama.

Foi nesse dia que Marta Temido decidiu apresentar a demissão.

“Aquela foi a gota de água. (…) E a minha função era preservar os cuidados prestados pelo Serviço Nacional de Saúde e a confiança dos portugueses no SNS e houve um momento em que senti que, independentemente de culpa, essa confiança dos portugueses no SNS mediada por aquela ministra estava posta em causa", confessou.

A entrevista a Marta Temido será transmitida esta quinta-feira, no Jornal da Noite, da SIC.

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