A mulher que protagonizou a luta pela legalização da procriação medicamente assistida pós-morte, em Portugal, está grávida do marido que morreu em 2019. Uma gravidez só possível porque Hugo autorizou, por escrito, que a mulher continuasse os tratamentos para engravidar.
Quando Ângela conheceu o marido, já o encontrou a meio de uma luta contra um cancro colorretal.
"Já tinha feito a preservação do sémen para preservar a futura fertilidade. Passado algum tempo casámos e tomámos a decisão de que queríamos ter um filho em comum", conta.
O casal ainda foi a uma primeira consulta no Hospital de São João, mas o projeto é interrompido em março de 2019 com a morte de Hugo. Mas o desejo de ter um filho ficou escrito no papel, o que deu força a uma outra luta, desta vez de Ângela.
Seguiu-se uma petição que leva a lei de 2006 a ser discutida e alterada na Assembleia da República, de forma a que seja possível usar esperma criopreservado do pai após a morte. Depois de um veto presidencial, a alteração é aprovada em março de 2021. Ângela regressa ao São João.
"Foi-me informado que só podia fazer a inseminação, não podia fazer mais tratamento. É a que tem uma taxa de sucesso menor. Tinha uma hipótese, mas estavam a dar-me uma hipótese mínima".
A inseminação não foi bem-sucedida e, depois de um esclarecimento da lei, avança com a fertilização in vitro, uma técnica com uma taxa de sucesso maior.
Em dezembro, Ângela descobre que está grávida, quase quatro anos depois da morte do marido.