País

Curiosidades sobre a origem do bolo-rei

Um dos doces mais famosos do Natal dos portugueses há mais de 150 anos, mas a sua origem já tem quase 2 mil anos.

SIC Notícias

É rara uma mesa de Natal em Portugal sem o bolo-rei, uma coroa de massa decorada com frutas cristalizadas. A história mais recente conta-nos que foi introduzido no nosso país por um pasteleiro francês no final do século XIX, mas a sua origem é ainda mais remota, com cerca de 2 mil anos.

A receita do bolo-rei foi trazida pelo chef pasteleiro Grégoire, recrutado em Toulouse em 1875 pelo patrão da "Confeitaria Nacional", emblemática pastelaria situada no coração de Lisboa, perto da Praça do Rossio.

Desde então, tornou-se uma das especialidades da época e a associação nacional dos produtores de pão e pastelaria atribui anualmente um prémio ao melhor bolo-rei do país.

A vencedora de 2022 é uma pequena padaria do bairro da Damaia, situada no concelho da Amadora, nos subúrbios do noroeste da capital portuguesa.

“É um lugar um tanto improvável, mas nem sempre os estabelecimentos mais chiques são os melhores”, disse à AFP Hélio Esteves, chef pasteleiro do estabelecimento familiar “Padaria da Né”.

"Nem todos vão ao Rossio comprar o seu bolo-rei, por isso encontra-se um em cada esquina", porque "é o bolo mais vendido na época natalícia", acrescenta à medida que vai dando a forma de coroa à massa coberta com frutas secas e cristalizadas.

"Aqui procuramos trabalhar da forma mais tradicional possível, para recuperar os sabores e aromas que nos chegam desde tempos remotos", explica o pasteleiro de 28 anos, que já tinha ganho o prémio de melhor "pastel de nata" em 2021, “um pequeno pudim em massa folhada e um dos pastéis mais populares de Portugal”, escreve a AFP.

Lendas e significados do bolo-rei ao longo da História

Reza a História que o bolo remonta aos festejos romanos da Saturnália, um festival em honra do deus Saturno que ocorria em 17 de dezembro no calendário juliano e, mais tarde, prolongou-se até 25 de dezembro. A fava, símbolo da fecundidade, era colocada dentro de um bolo para eleger o rei da festa durante os banquetes.

A Igreja Católica aproveitou o facto desse jogo pagão ser característico do mês de dezembro e decidiu associá-lo à Natividade e à Epifania, respetivamente o dia 25 de dezembro e o Dia dos Reis, a 6 de janeiro.

O seu nome alude aos três reis magos e simboliza os presentes que levaram ao menino Jesus, no dia do seu nascimento.

O bolo-rei existiu em toda a Europa na Idade Média, mas quase desapareceu antes de ser recriado em França, sob o reinado de Luís XIV e era confecionado para as festas do Ano Novo e do Dia de Reis.

Com a Revolução Francesa em 1789 o bolo de reis ou coroa dos reis foi proibido e a festa dos reis transformada em festa dos “Sans-culottes” ou festa dos bons vizinhos. E os pasteleiros, que não quiseram perder o negócio, em vez de eliminarem o bolo, decidiram continuar a confecioná-lo mudando-lhe o nome durante o período revolucionário para Gâteau des Sans-culottes.

Tradição em Portugal há mais de 150 anos

Por volta de 1869-1870 o bolo-rei terá então sido trazido de França para Portugal pelo pasteleiro contratado para a lisboeta Confeitaria Nacional. Aos poucos, outras pastelarias da cidade começaram também a fabricar o bolo-rei, originando várias versões diferentes. No Porto, o bolo-rei foi introduzido em 1890 por iniciativa da Confeitaria Cascais.

Há quem se lembre das surpresas dentro do bolo-rei “uns mini berloques, coisinhas miniatura que de pouco serviam”. E ainda havia outro “brinde”: a famosa fava seca: “quem tivesse o azar de a apanhar numa fatia tinha de pagar o próximo bolo-rei à família”.

Por outro lado, a pessoa que encontrasse o brinde seria brindada com "boa sorte".

Hoje em dia já não se coloca dentro do bolo nada mais além dos frutos, devido aos receios de engasgar quem inadvertidamente comesse uma das fatias “surpresa”.

Últimas