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Sistema que permite monitorizar abelhas vai ser criado por alunos de Santa Maria da Feira

Estabelecimento de ensino do distrito de Aveiro vai ser apoiado pela autarquia local com 5.000 euros para aquisição de materiais eletrónicos e será desenvolvido com recurso à tecnologia LoRa.

Lusa

Estudantes da Escola Secundária de Santa Maria da Feira vão criar duas redes de sensores que permitirão monitorizar indicadores como a população de abelhas em áreas rurais e os níveis de ruído e afluência humana em contexto citadino.

Segundo revelou hoje à Lusa esse estabelecimento de ensino do distrito de Aveiro, o projeto vai ser apoiado pela autarquia local com 5.000 euros para aquisição de materiais eletrónicos e será desenvolvido com recurso à tecnologia LoRa, que, envolvendo equipamento de baixa frequência e reduzido consumo energético, ativa a chamada "internet das coisas" mesmo em zonas sem rede telefónica, permitindo a comunicação de dados por via remota.

A coordenação do projeto cabe a Fátima Pais, que, enquanto docente de Informática, diz que a grande vantagem da LoRa é "funcionar com frequências de baixo nível e, por isso, poder ser utilizada em áreas mais rurais, contrariamente ao que acontece com o 5G, o Bluetooth e outras tecnologias".

Para melhor visualização desse potencial, Pedro França, professor de Multimédia, refere como exemplo que a tecnologia wireless "só funciona num raio de 100 metros, tem que ser paga e gasta energia", enquanto a LoRa "chega a trabalhar a 10 quilómetros e transmite a informação através de um meio gratuito, que é o ar".

"Porque é que não há mais gente a usar isto, então?", questiona a própria Fátima Pais. "Porque esta tecnologia não permite comunicação por voz e só envia pacotes de dados muitos pequenos, recolhidos em aparelhos que vamos ter que ser nós, na escola, a construir", responde.

Envolvendo outros docentes de Matemática, Biologia, Física e Química, numa ligação estreita ao clube Ciência Viva e ao de Programação e Robótica, o projeto contará com o apoio do Município durante três anos e vai focar-se na criação de duas redes de sensores: uma para monitorização inteligente de um conjunto de colmeias em meio rural e análise demográfica da respetiva população de abelhas, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; e outro para controlo na cidade de indicadores como o nível de humidade do ar, o índice de ruído público ou a afluência de pessoas a determinada área geográfica.

"O controlo de acessos é, aliás, uma das questões que mais interessa à Câmara Municipal da Feira, porque tem muita utilidade prática na gestão de eventos, na análise de fluxos de pessoas e na tomada de decisões", nota Fátima Pais. "Já por causa disso é que o projeto vai culminar, por um lado, na criação de um software próprio para a Câmara poder aceder e interpretar os dados recolhidos, e, por outro, na criação de uma 'app' telefónica para o cidadão comum também poder aceder a estas informações", acrescenta Pedro França.

O vereador local da Educação, Gil Ferreira, reconhece que este se trata de "um projeto de inovação e desenvolvimento com perspetivas reais de benefícios para a comunidade" em áreas como o ambiente, a proteção civil, o desporto e a natureza ou agricultura. Defende ainda que o trabalho em causa tem a vantagem de constituir "uma oportunidade de especial capacitação" para os cerca de 10 jovens do 11.º e 12.º anos de escolaridade que dedicarão várias horas por semana à concretização das duas redes de sensores, sempre em período extracurricular, fora do horário de aulas normal.

David Santos, que agora terminou o 12.º ano do Curso de Ciências e Tecnologias, já dedicou dezenas de horas extras à tecnologia LoRa no ano letivo 2021/2022 e garante que as conseguiu conciliar com todas as suas outras atividades pessoais, inclusive as aulas de piano. "É muito bom quando começamos do zero, trabalhamos tanto e depois conseguimos ver uma ideia a concretizar-se e a peça a funcionar", afirma, apontando para um carro McQueen programado com microbits e para uma bailarina que se move com recurso a uma placa de arduíno.

Vasco Magolo, que se juntou a esta atividade extracurricular no 11.º ano do Curso Profissional de Técnico de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, também lhe dedicou "todas as segundas-feiras à tarde, muitas noites e alguns fins de semana". Confessa que às vezes a sua "vida social de adolescente" se ressentiu um bocado dessa dedicação, mas encara a experiência como um investimento: "Trabalhar nisto reforçou a minha ideia de que quero mesmo seguir Engenharia Informática e vai contar para a minha PAP [Prova de Aptidão Profissional] , que conta uns 40% para a entrada na universidade".

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