A falta de médicos no Algarve é uma situação que já se prolonga há décadas. Só no Centro Hospitalar Universitário faltam cerca de uma centena de clínicos. Não há profissionais interessados em ocupar as vagas, faltam equipamentos, a estrutura está envelhecida e a concorrência do setor privado têm sido algumas das causas apontadas.
Quase todas as especialidades são atingidas pela falta de profissionais de saúde. Em algumas, a situação é tão crítica que, pontualmente, causa rutura nos serviços: como aconteceu na traumatologia, dermatologia, pediatria entre outras especialidades. Os anestesistas, por exemplo, são pouco mais de uma dezena para toda a região.
A Ordem dos Médicos visitou esta terça-feira o Centro Hospitalar Universitário do Algarve e afirma que a “situação catastrófica” que o hospital viveu há dois anos está atualmente “pior”. Sublinha que entre os profissionais que trabalham na especialidade de pediatria, apenas três podem fazer serviço de urgência, por terem menos de 55 anos.
“Estes médicos já ultrapassaram há muito o limite, não podem estar com as suas famílias, não podem ter outra vida para além da urgência e urge resolver os problemas da urgência da saúde materno-infantil do Algarve, que se arrastam e são semelhantes, na origem, a muitos dos problemas que temos nas várias especialidades, em vários hospitais”, afirma Alexandre Lourenço aos jornalistas, criticando o recurso a horas extra e banco de horas para colmatar a falta de médicos e para “impedir que o hospital não preste assistência à sua população”.
A falta de profissionais de saúde tem obrigado o hospital a colmatar as falhas com recurso a empresas de prestação de serviços. Só a uma dessas empresas, a Administração Regional de Saúde do Algarve está a apagar, por mês, mais de 4.600 horas a tarefeiros. O facto desses reforços serem pago melhor do que as horas extra aos médicos da casa tem gerado descontentamento e, até, fuga de profissionais par ao setor privado.
O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos sublinha a importância de “criar condições que permitam reter os médicos, dar-lhes a possibilidade de serem remunerados pelo trabalho que fazem a mais e pela sua qualificação”.
Ana Vaz Gomes, administradora do Hospital de Faro, afirma que têm sido usadas as vagas carenciadas todos os anos e reconhece que as escalas são conseguidas “à custa de muito esforço dos profissionais”. No entanto, afirma que o serviço de urgências pediátrica tem tido um elevado fluxo, o que se torna incomportável para qualquer serviço.
“É verdade que as pessoas neste momento vêm para as urgências com todas as situações. Nós temos tido um fluxo às urgências de pediatria de mais de 250 crianças por dia, porque não passam pela Saúde24, pelos centros de saúde, pelas subs e vêm diretamente para o hospital. É impossível. Não há hospital nenhum com os recursos que seja que consigam suportar este volume”, afirma. E deixa um apelo: "por favor recorram ao nível de urgência que compete”.
A Administração do Hospital de Faro tem insistido com a tutela para aumentar as chamadas vagas carenciadas de especialidade que são urgentes assegurar e que, por isso, são abrangidas por uma majoração salarial.
Além dessa estratégia para manter ou atrair clínicos, o Centro Hospitalar Universitário do Algarve prevê um investimento de três milhões de euros no bloco operatório e em equipamento de angiografia e neurocirurgia.
A falta de médico verifica-se também nas unidades de saúde familiar que, desde 2020 abriram 115 vagas e apenas menos de 50 foram ocupadas.
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