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Escolas Superiores de Educação iniciam jornada contra "preconceito" do ministro Nuno Crato 

As Escolas Superiores de Educação (ESE) iniciam hoje a primeira Jornada de Reflexão para mostrar que as declarações  do ministro Nuno Crato, em dezembro, sobre o sistema de formação de professores  e a qualidade dos licenciados das ESE "são injustas". 

(LUSA/Arquivo)
JOSE SENA GOULAO

As ESE, que integram a Associação de Reflexão e Intervenção na Política  Educativa das Escolas Superiores de Educação (Aripese), vão parar "a sua  atividade normal" às 16:00 e, durante 12 minutos - "o mesmo tempo que durou  a entrevista de Nuno Crato à RTP [em dezembro]" -, vão distribuir folhetos  com informação e dados a explicar e a clarificar "a importância e os contributos  das ESE", explicou Rui Matos, presidente da Aripese. 

Em causa está uma entrevista do ministro da Educação e Ciência, Nuno  Crato, à RTP, a 18 de dezembro, dia da prova de avaliação de conhecimentos  e capacidades (PACC) dos professores, em que o responsável falou sobre o  sistema de formação de professores e as licenciaturas não universitárias.

Na entrevista, o ministro afirmou que "o sistema de formação de professores  tem, neste momento, várias falhas", entre as quais a preparação dos candidatos  à entrada para os cursos de habilitação à docência, que, segundo o responsável  pela pasta da Educação, devem, pelo menos, prestar provas a Português e  Matemática para poder aspirar a lecionar no Ensino Básico e Secundário.

Também a preparação à saída do curso suscitou dúvidas ao ministro, sobretudo  se as licenciaturas não forem universitárias. 

"A dúvida incide sobre esses licenciados", admitiu Nuno Crato na entrevista  à RTP, questionando depois: "Sempre que se faz um exame está-se a dizer  que não se confia"? 

Em declarações à Lusa, o presidente da Aripese afirmou que "um ministro  não pode ter ideias de senso comum, enquanto ministro", considerando que  há um "preconceito pessoal" de Nuno Crato em relação às ESE. 

Rui Matos disse ainda que estes estabelecimentos de ensino se sentem  "ofendidos", sendo a jornada uma forma "de salvaguardar" a dignidade das  escolas. 

Para além dos "12 minutos de reflexão", as escolas vão apresentar diferentes  programas e iniciativas à volta do tema "As Escolas Superiores de Educação  no contexto do sistema educativo português". 

Segundo o presidente da Aripese, "não se percebe porque deve haver dúvidas  da qualidade dos professores", salientando que estudos internacionais recentes  demonstram "que há desempenhos acima da média" dos alunos portugueses. 

Na edição de 2011 de "Tendências Internacionais no Estudo da Matemática  e das Ciências" e "Progressos no Estudo Internacional de Leitura e Literacia"  (TIMSS e PIRLS, nas siglas em inglês), Portugal ficou em 15 lugar a matemática  e em 19 a ciências e leitura, nos resultados dos alunos do 4. ano, num  estudo em que participaram 40 a 50 países. 

A iniciativa de quinta-feira foi aprovada na reunião da Aripese, a 27  de dezembro, em que a associação decidiu também subscrever a Carta Aberta  do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos enviada ao  primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, a pedir a demissão de Nuno Crato.

 A Aripese representa 12 das 13 ESE públicas do país. A única escola  que não integra a associação é a da Guarda, mas também esta instituição  irá participar na Jornada de Reflexão, segundo avançou o presidente da associação.

A jornada é apenas a primeira de outras ações "de reflexão, discussão  e clarificação" que as ESE vão realizar ao longo do ano letivo. 

"A educação nunca é demais. Se se acha que se gasta muito com a educação,  é importante ver quanto dinheiro se perde com a ignorância", frisou Rui  Ramos.  

  Lusa

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