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Eurodeputada Ana Gomes tem "vergonha" da "falta de generosidade" de Portugal para acolher sírios

A eurodeputada socialista Ana Gomes considerou  que a União Europeia "podia fazer muito mais" pelos refugiados sírios, acrescentando  que tem "vergonha" da "falta de generosidade" de Portugal para acolher estes  cidadãos. 

© Esam Al-Fetori / Reuters

"Os Estados europeus têm de ser generosos", apelou a eurodeputada, que  integra as comissões dos Assuntos Externos, dos Direitos Humanos e da Segurança  e Defesa. 

Porém, disse, não é o que tem acontecido sempre. "Uns (países) fazem-se de desentendidos e outros têm todo um discurso populista que efetivamente  não ajuda ao acolhimento, nem que seja temporário, aos sírios", observou.

Elogiando a atuação dos países nórdicos e da Alemanha, Ana Gomes realçou  que, "se há um caso de política prioritária de acolhimento por razões humanitárias  são, obviamente, os refugiados sírios". 

A UE "podia fazer muito mais" e "para além do humanitário", defendeu.  "Não é com medidas de acolhimento humanitário que a Europa vai ajudar a  resolver o problema da Síria, a Europa tem de ser mais ativa na procura  de uma solução política", disse. 

Sobre o caso dos 74 cidadãos que aterraram, na terça-feira, no aeroporto  de Lisboa, vindos de Bissau, num voo da TAP, e, alegando ser sírios em fuga  à guerra, pediram asilo político a Portugal, Ana Gomes teceu fortes críticas  ao Governo. 

"Quando o Governo português anuncia, perante um conflito das dimensões  do da Síria  1/8que está disponível para acolher 3/8 15  1/8refugiados sírios sob  proteção internacional 3/8, eu tenho vergonha. Eu tenho vergonha, como portuguesa  e como europeia. É de uma falta de generosidade atroz", criticou. 

Em causa está o Programa Nacional de Reinstalação de Refugiados, ao  abrigo do qual Portugal comunicou ao Alto Comissariado das Nações Unidas  para os Refugiados (ACNUR) a disponibilidade para acolher 15 refugiados  sírios sob proteção internacional, até ao final de 2013. Em setembro, o  Ministério dos Negócios Estrangeiros comunicou não ter recebido nenhum pedido  ao abrigo do programa. 

A 25 de setembro, Ana Gomes dirigiu aos ministérios da Administração  Interna e Negócios Estrangeiros um pedido de reunificação familiar relativo  a um sírio residente em Portugal. Os familiares do homem - mãe, irmã, cunhado  e sobrinhos - vivem num campo de refugiados na Turquia, onde a eurodeputada  esteve em julho. 

Até agora, Ana Gomes obteve resposta apenas do ministro da Administração  Interna, que, em carta enviada a 21 de outubro, esclareceu que "a única  forma de aceitar em Portugal os familiares será através do programa de reinstalação".

Miguel Macedo adiantou ainda que, "face à legislação nacional, apenas  a mãe poderia ser elegível para efeito do reagrupamento familiar", sendo  "necessário" que os outros familiares "sejam indicados" pelo ACNUR para  "a cota de Portugal".  

Sobre o caso dos 74 requerentes de asilo que chegaram a Lisboa esta  semana, Ana Gomes observou "que quem está numa situação" como a que se vive  na Síria "recorre a todo os meios, legais e ilegais, para sair dela". 

Portanto, "quaisquer que tenham sido as circunstâncias de ilegalidade  em que essas pessoas chegam a Portugal, quem quer que venha da Síria (...)  merece ter o seu pedido de asilo devidamente considerado pelo Governo português",  disse. 

Alertando que "é ilegal", aos olhos do Direito Internacional, devolver  requerentes de asilo antes de concluído o processo de avaliação do caso,  frisou: "Essas pessoas não podem ser recambiadas para a Guiné-Bissau, que,  como se vê, não tem um Estado a funcionar neste momento". 

 

     

 

Lusa

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