"O senhor ministro, neste momento, digamos que está com uma batata quente nas mãos. Percebe que nós temos razão (nos argumentos apresentados) e sabe que o encerramento dos estaleiros trará inevitavelmente consequências e prejuízos gravíssimos à economia nacional e ao tecido social", afirmou Arménio Carlos, após uma reunião com José Pedro Aguiar-Branco.
Caso o negócio da subconcessão dos ENVC à Martifer se concretize, o secretário-geral da CGTP frisa que "nem o próprio ministro ousa, tão-pouco, avançar com a ideia do futuro" da empresa.
"Ele não sabe. Como é que é possível entregar uns estaleiros destes sem haver um caderno de encargos e compromissos de carteira de encomendas e de manutenção de empregos? O Governo apenas diz: eu quero livrar-me disto o mais depressa possível e quem vier que feche a porta. E quem vier vai fechar a porta de forma errada", alertou Arménio Carlos.
Durante a reunião, a comitiva da CGTP reiterou ao ministro que continua "firmemente convencida" de que os estaleiros navais têm futuro.
Arménio Carlos lembrou o potencial de negócio para a indústria naval com a obrigatoriedade da marinha mercante ter de introduzir um segundo casco nos navios, as crescentes dúvidas sobre a Martifer, considerada uma empresa "sem credibilidade" e com um "passivo enormíssimo (superior a 370 milhões de euros)", e a questão da alegada concorrência desleal invocada pela Comissão Europeia quanto ao financiamento de empresas públicas por parte do Estado.
"Ainda recentemente, foi o Estado que interveio com seis mil milhões de euros para resolver o buraco e a fraude do BPN. Não se justifica que a Comissão Europeia tenha dois pesos e duas medidas", disse o líder da central sindical.
"Para ajudar o investimento no setor produtivo não se pode fazer (apoiar), porque põe em causa a concorrência desleal, mas para tapar buracos do setor privado financeiro já é o erário público que pode pagar. Isto não faz sentido", criticou Arménio Carlos, acrescentando que, neste ponto, o ministro "reconheceu" esta "dicotomia" de posições.
O secretário-geral da CGTP deixou ainda outro alerta quanto às possíveis forças externas que, no seu entender, estão empenhadas no encerramento dos estaleiros de Viana do Castelo.
"É uma postura política e ideológica da Comissão Europeia para dizimar a indústria naval no sul da Europa, nomeadamente na Galiza e em Viana do Castelo, e assim retirar estas empresas que são fortes concorrentes à aquisição da carteira de encomendas da modernização dos navios com a introdução do segundo casco", afirmou.
"Está-se tudo a preparar para ir para os estaleiros da Alemanha, para alguns estaleiros do centro da Europa e para os estaleiros da Polónia", avisou Arménio Carlos.
O secretário-geral da CGTP disse ainda que vai pedir uma de audiência ao comissário europeu da Concorrência, Joaquín Almunia.
Lusa