Opinião

Uma carnificina é uma carnificina. Não tem outra leitura (isto não é para toda a esquerda)

Ao 5º dia da nova guerra continuamos chocados. Não só com os relatos que chegam de Israel, mas também com as posições políticas que vão sendo assumidas, ou não.

IBRAHEEM ABU MUSTAFA

Bernardo Ferrão

O que se passou no último sábado - o ataque brutal do Hamas numa quebra de segurança israelita inexplicável -, não pode ser escrito com meias palavras: foi um crime contra a humanidade, uma carnificina. Centenas de mortos, sequestros e até crianças decapitadas.

Quão degradante pode ser a humanidade.

As imagens são brutais. Quase nem podem ser exibidas pelas televisões tal é o horror. O desfoque na imagem, obrigatório pela violência, alivia o confronto com os atos sanguinários, mas não será preciso provocar reação? Às vezes temos de acertar em cheio no estômago para matar visões deturpadas da história. Ou teorias mal-amanhadas só convenientes aos que preferem continuar cegos.

A posição do PCP perante o ataque do Hamas é uma vez mais incompreensível. Repete o erro do início da guerra na Ucrânia ao não reconhecer o óbvio - era e sempre foi uma invasão da Rússia! Mas também os bloquistas entram numa narrativa, e em manifestações, anti Israel que lhes bloqueiam a palavra. Não pode haver linhas vermelhas perante um massacre. Nem realidades paralelas.

Aqui não está em causa defender um lado ou outro. Há culpas dos dois lados da fronteira, e as razões do conflito são de facto muitas e complexas, mas não é esse o ponto em discussão. Mesmo perante o que tem sido a atuação de Israel nos últimos anos, tantas vezes questionável, não pode haver complacências para o que se passou no sábado.

Ainda assim, Bloco e PCP insistem no direito à autodeterminação. Insistem na comparação com a Ucrânia, como se tudo fosse a mesma coisa. Fogem à condenação total e absoluta do sangue-frio do Hamas e assim ajudam a normalizá-lo.

Mas as esquerdas não são todas iguais. Rui Tavares, com a sua capacidade única de ler a história, não teve medo das palavras. O Hamas é uma “organização terrorista” que nada tem a ver com a libertação dos palestinianos. É e sempre foi um opressor daquele povo e de outros que não pensem da mesma forma.

A esquerda de facto não é toda igual. Uns ficam nos livros pela coragem e pelo momento certo. Para os outros, a História, e sobretudo a realidade, é matéria de interpretação. Quando não serve a ideologia, arranja-se outra. Que tortura!

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